Estou a chegar do cinema.
Recuperando um dos meus hábitos da capital, hoje, segunda-feira, é dia de cinema.
Já tenho referido por aqui que gosto de heróis. Robin Hood estava em cartaz em Leiria: lá fomos nós, para encontrar um Robin dos Bosques muito diferente do meu imaginário.
Não que o Russell Crowe não fique lá muito bem a substituir qualquer imaginário anterior, mas houve várias coisas que me agradaram e/ou intrigaram no filme.
Como quando se tem perguntas, actualmente, pergunta-se à net, lá vim eu indagar.
O guião comprado por Ridley Scott era completamente diferente. A personagem central da história era o Seriff de Nothingham. Ridley Scott resolveu transformá-lo fazendo de Robin Hood a personagem central, mas afastando-se na «história tradicional» de uma maneira bem interessante; anunciada como «o homem por detrás da lenda».
Num épico muito digno do que a dupla Russell Crowe/Ridley Scott já nos deu no Gladiador, o herói emerge de uma personagem comum, que se distingue dos outros pela fidelidade a ideais, a lealdade e o desinteresse pela vulgar «ascensão socio-económica» da sua época. Não completamente isento de defeitos e portador de um romantismo envolvente, Robin toma a identidade de outro e requalifica a sua imagem, num «upgrade» que nos faz esquecer a pequena «trapaça» realizada com as identidades. Em alguns pontos o filme fez-me lembrar «Somersby: o regresso de um estranho», pela questão, sobretudo, da paixão que desperta na mulher que pertencera a outro. Com um final bem mais feliz - e muito cinematográfico - que Somersby (ver a cena em que a guerra pára, momentaneamente, para que os dois protagonistas se beijem, num arrobo de paixão pouco plausível no meio de uma cena de batalha sangrenta), Robin Hood dá-nos uma versão simultaneamente humana e heróica de uma lenda.
No fim, neste filme, Robin é considerado fora da lei, assim mesmo, dito pelas personagens originais como «out of law».
E, curiosamente foi a característica que me fez mais confusão ser alterada. Na versão que me encantou na juventude - lida, claro - do livro «15 jovens como nós», Robin era proscrito. Proscrito. Uma expressão que não ouvi associada a mais nada. Robin Hood era um proscrito.
De repente dei-me conta que a palavra se colara ao herói de tal forma que, mesmo não sabendo o seu verdadeiro significado, sabia que era algo mais apropriado que fora da lei. Sentia que era «banido», «expulso», recusado por uma lei, acima de quem ele estava, pelas suas convicções - justamente o que faz dele um herói. Talvez um pouco semelhante à excomunhão de Lutero, que rasgou a bula do Papa em praça pública, porque não lhe reconhecia autoridade. O único que o podia excomungar era Deus; a única lei que podia considerar proscrito Robin era a própria ideia de Justiça, uma moral, escrita com letra grande, diferente do uso que lhes dão, frequentemente os que a exercem, em nome de um legitimidade unicamente institucional, circunstancial, efémera, falível, mesquinha, assente em interesses pessoais.
Robin Hood, legal ou legendariamente Robert de Loxeley (Losqueley,na minha versão escrita) era um proscrito. Uma palavra que lhe serve como a nenhum outro.
Poderão mudar tudo o que quiserem, menos a palavra que define o carácter, a história, a essência de Robin dos Bosques: Proscrito. Uma palavra que eu tinha que guardar, no lugar certo: colada ao Robin dos Bosques, eterna e heroicamente Proscrito.
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