Hoje lá experimentei eu a arte portuguesa do «desenrasca».
Eu queria muito, mesmo muito, explicar ao visitante americano uma série de coisas da História de Portugal - ele estava tão interessado e eu tinha tantas coisas para contar...Só me faltava o vocabulário.
Como este «encontro de culturas» já tinha começado ontem e eu não perco uma oportunidade de ter público (isso e o orgulho nacional, que me faz, às vezes, parecer demais com o José Hermano Saraiva) hoje de manhã fui munida com uns livros com muitas imagens para lhe explicar as etapas da formação de Portugal, o processo da Reconquista, a jogada política que foi a doação do Mosteiro de Alcobaça e o facto de sermos o país com as fronteiras mais estáveis da Europa.
Pequeno almoço e almoço e as explicações iam fluindo mais ou menos, com a dificuldade que é falar de reis com o mesmo nome, (Pedro I, o de D. Inês, Pedro IV, o liberal e o que tornou o Brasil independente) ou de coisas que explicadas de forma simples não têm sentido - se D. Constança também era espanhola e casou com D. Pedro, porque é que a D. Inês teve de ser assassinada para afastar a União Ibérica?
Pronto, lá vamos nós, História de Portugal acima, História de Portugal abaixo, lutando eu com a falta de léxico e quase amaldiçoando o carácter rebuscado do vocabulário usado nas narrativas históricas. Bem dizem os putos: é complicado de compreender!...
Santuário de Nossa Senhora da Nazaré: "Claro que vamos entrar! Está tão bonito, devido ao restauro, ainda em curso."
E agora? Era um desperdício só olhar. E eu tão danadinha para explicar tudo, com as palavras a correrem para a boca, mas sem tradutor simultâneo...Barroco, pois... enfim...este estilo artístico. Impossível não falar da talha dourada e do azulejo, ali mesmo a olhar para nós e a pedir para ser enaltecidos como as características específicas do nosso barroco. E eu a olhar para os azulejos, para os paineis - figura avulsa, lá se percebeu e...e os paineis historiados? Eu tinha de explicar. Lá vou puxando pelo meu inglês desarticulado, entre as memórias da escola e o treino das séries do AXN, até que ele (dava-lhe a nota para o meu melhor aluno!) consegue, não só perceber, como fazer um trocadilho em inglês: tiles tell tales.
Não é um mimo?
Vou fazer um sucesso quando disser isto aos miúdos. Dito por um americano genuíno, uma forma de aprender História de Arte com ar de Funky Town: Tiles tell tales! A minha nova versão de paineis historiados. Quase dá vontade de fazer um rap: Tiles-tell-tales.
Isto é que é desenvolver competências!
3 comentários:
Nossa Sra da Nazaré faz mesmo milages! Cá estou eu a visitar "quase" espontaneamente o teu blog e ainda faço um comentário!!!
Foi um belo dia...
Reconheço-me
Reconheço-me em todas as paisagens
anunciadas pelos profetas, ou pelos mágicos,
fascinada com o impulso que me faz arriscar
uma paixão sem aviso prévio.
Plagio sem restrições
a vida de heróis fantasiosos.
Procuro em todas as definições
acerca da vida e da morte
a síntese perfeita
e transcrevo-a nas cordas vocais
para a citar a propósito das coisas que acontecem.
Ninguém me diga o caminho onde se equivalem
os dias e as noites de um roteiro de verão.
Graça Pires
Um dia terá de me explicar como consegue, assim, encontrar coisas que me «assentam que nem uma luva». Confesso que é até um bocadinho arrepiante. Já o imagino de turbante e bola e cristal, à procura de uma coisa, que eu poderia ter escrito; se fosse poetisa, claro.
Caramba! Eu reconheço-me sem dúvida.
Comprei há dias um livro de Paulo Prereira, que se chama «Lugares Mágicos de Portugal:Paisagens Arcaicas» e que é um roteiro de lugares que guardam vestígios da Pré-História. Não sei para que o comprei agora que não tenho tempo para o frequentar. Mas «Um Dia» vou fazer esses roteiros. Um dia...por alguma coisa me comparam com os pacotes de açucar da Nicola: porque eu digo muitas vezes um dia...e não sei se terei tantos dias assim, para tudo o que vou deixando para um dia.
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