Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
domingo, 30 de agosto de 2009
E o conjunto António Mafra?
"Eram praí sete e picos, oito e coisa, nove e tal."
Primeiro pinte uma gaiola com a porta aberta Depois pinte algo gracioso, algo simples, algo bonito algo útil para o pássaro. Então encoste a tela a uma árvore num jardim num bosque ou numa floresta. Esconda-se atrás da árvore sem falar sem se mover... Às vezes o pássaro aparece logo mas ele pode demorar muitos anos antes de se decidir. Não desanime. Espere. Espere durante anos se necessário. A rapidez ou a lentidão do pássaro não influi no bom resultado do quadro. Quando o pássaro aparecer se ele aparecer observe no mais profundo silêncio até o pássaro entrar na gaiola. E quando ele entrar delicadamente feche a porta com o pincel. Então apague uma a uma todas as grades tomando cuidado para não tocar na plumagem do pássaro. Em seguida pinte a árvore escolhendo o mais bonito dos seus galhos para o pássaro. Pinte também a folhagem verde e o frescor do vento o dourado do sol e a algazarra das criaturas na relva sob o calor do verão. E então espere até que o pássaro decida cantar. Se o pássaro não cantar é um mau sinal, um sinal de que a pintura está ruim. Mas se ele cantar é um bom sinal, um sinal de que você pode assinar. Então, com muita delicadeza, você arranca uma das penas do pássaro e escreve o seu nome num canto do quadro.
1 comentário:
Quem me dera saber pintar o virar da chula, mas nem com lições lá iria...
O meu pássaro ficaria eternamente mudo!
O pintor, o pássaro e a gaiola
Primeiro pinte uma gaiola com a porta aberta
Depois pinte
algo gracioso,
algo simples,
algo bonito
algo útil
para o pássaro.
Então encoste a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta.
Esconda-se atrás da árvore
sem falar
sem se mover...
Às vezes o pássaro aparece logo
mas ele pode demorar muitos anos
antes de se decidir.
Não desanime.
Espere.
Espere durante anos se necessário.
A rapidez ou a lentidão do pássaro
não influi no bom resultado do quadro.
Quando o pássaro aparecer
se ele aparecer
observe no mais profundo silêncio
até o pássaro entrar na gaiola.
E quando ele entrar
delicadamente feche a porta com o pincel.
Então
apague uma a uma todas as grades
tomando cuidado para não tocar
na plumagem do pássaro.
Em seguida pinte a árvore
escolhendo o mais bonito dos seus galhos
para o pássaro.
Pinte também a folhagem verde
e o frescor do vento
o dourado do sol
e a algazarra das criaturas na relva
sob o calor do verão.
E então espere até que o pássaro decida cantar.
Se o pássaro não cantar
é um mau sinal,
um sinal de que a pintura está ruim.
Mas se ele cantar é um bom sinal,
um sinal de que você pode assinar.
Então, com muita delicadeza,
você arranca uma das penas do pássaro
e escreve o seu nome num canto do quadro.
Jacques Prévert
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