Não, não NÃO!
Não quero voltar à escola!
Não quero. Não posso não querer?
Amanhã vai ser um dia muito penoso: os beijinhos, as observações hipócritas sobre as férias e o «'tás mais magra?...», os olhares pelo canto do olho e o início do desfilar da burrocracia que vai matando - por envenenamento - o ofício de ensinar...
Esse verdadeiramente só começará no meio do mês, quando a escola volta a encher-se de vida, de gritos, de mochilas amontoadas aos cantos, do som dos passos corridos pelas escadas e das exclamações de alegria pelo toque de saída.
Mas nessa altura, já o entusiasmo e emoção com que escrevo estas palavras estará soterrado por muitos relatórios e planificações, por medições absurdas do que não se pode medir: o entusiasmo de aprender, o empenho de ensinar.
Fixados em múltiplas grelhas, os números frios não deixam vislumbrar o olhar interessado das crianças, que era tudo o que era importante antes de haver grelhas, estatísticas e objectivos internacionais de usar o ensino como arma de arremsso ou vestimenta política.
E porque sou professora, amanhã - que é Setembro - vou começar a afogar a minha utopia em grelhas e programas informáticos para fabricar os números que sairão nas estatísticas.
No meio do mês de Setembro - que dantes era um magnífico mês de férias neste jardim à beira-mar plantado; mas isso era antes dos pais trabalharem tantas horas por dia e os filhos terem tantas actividades curriculares e extra-curriculares neste caminho do estrelato estatístico em que entrámos há uns anos - encontrar-me-ei com os alunos e vou tentar, com muita força, recordar-me de que o meu ofício é ensinar, antes de tudo ensina-los que saber aprender é a coisa mais preciosa do mundo, que afasta a solidão e o tédio e nos permite criar projectos de vida, mesmo que não estejam na lista das profissões de 'top'.
E vou-lhes pedir que me acompanhem e que não me deixem esmorecer, neste mundo que endoidou na corrida para gravar a sua estrela no passeio da fama.
Amanhã é já Setembro.
Pensando melhor...não posso voltar só em Oitembro?
1 comentário:
Comungo e partilho do teu «sofrimento»... :(
Mas, para a frente é que é o caminho, já o bom povinho dizia! Pensa que somos muitos, hehehe.
Bom começo e beijinhos.
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