sábado, 29 de agosto de 2009

Encontrar quem soubesse

receber a minha alegria

- não com os braços abertos: demasiado amplo, nada consegue segurar
- não com os braços cruzados: recusa de participação
- não com os punhos fechados: da raiva, da inveja, da reclamação de injustiça,

com as mãos em concha

para que ela se aninhe,
para que possa beber dela em golos pequenos, como quem bebe a água de uma fonte do caminho

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

No fundo, encontrar a poesia-vida, não é?

O poema original

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.


Ary dos Santos

Escrivaninha disse...

Caramba! Este poema é um sismo! Muito obrigada.