Mark Twain
Tradução para meios onde os bichos não são carpinteiros:
Quem dispõe do poder como único argumento, trata todos os outros como subalternos.
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
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Sátira
Disse então aos tiranos:
Que pequena e mesquinha humanidade
A vossa!
Horas, dias e anos
De crueldade,
Para que ninguém possa
Gritar que passais nus pela cidade!
Miguel Torga
O Rei vai Nu
"Não sei de imagem que o amor não persiga
Não sei de ti se não fores minha amiga
Faz o que queres, que se queres é preciso
Faz o melhor, fá-lo com a loucura e com juízo, faz o que é preciso
Viva quem muda sem ter medo do escuro
o desconhecido é o irmão do futuro
Viva quem ama com coração aos saltos
E mesmo assim vence os seus altos e baixos, e altos e seus sobressaltos
E viva o dia em que já não precisas de reis nem gurus nem frases chave nem divisas
O dia em que já não precisas de reis nem papás nem profetas nem profetizas
Hei, hei, que é do rei? o rei foi-se, o rei vai nú
Hei, hei, viva eu, viva tu
Hei, hei, que é do rei? o rei foi-se, o rei vai nú
Hei, hei, viva eu, viva tu"
Sérgio Godinho
Poema do fecho éclair
Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
António Gedeão
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