terça-feira, 18 de agosto de 2009

Aprender algo de novo

O mais engraçado é que não sei bem há quanto tempo tenho este CD. Talvez desde a passagem de ano de 2006/2007...Lembro-me de ter insistido para comprar algo de novo da música brasileira, pois fã que sou dos clássicos, nem sempre conheço as novas sonoridades.
Não me lembro se alguma vez ouvi o CD. Na realidade, se ouvi, não ouvi de facto.
As palavras da música sempre me exigem uma atenção a tempo inteiro, que implica ouvir, degustar e classificar em CD eleito para me fazer companhia preferencial ou apenas mais um na prateleira, para ouvir num dia qualquer, indiferente.
Hoje apetecia-me aprender algo de novo.
E depois esta frase não me parece muito bem...Eventualmente aprender implicará sempre algo de novo, mas...refiro-me ao assunto mesmo. Tenho aprendido muita coisa nova velha ultimamente. Sei que isto parece não fazer sentido. Tenho estudado muito e aprendido, mas sobre os assuntos que marcam normalmente a minha vida, a minha busca, o meu caminho habitual, que, mesmo recheado de coisas sempre novas e saborosas de descobrir, correspondem a uma busca encetada com vontade, no mesmo caminho onde já há muito elementos conhecidos.
Foi então hoje, para acompanhar o tempo de planear, de esquematizar, de começar (outra vez), que me apeteceu este aprender.
Olhei para o CD e pensei porque seria que ele não me dizia nada. Coloquei-o no prato (agora já não deve ser prato, esse era do gira-discos...) e lá accionei o botão.
A voz e música foram-me fazendo companhia aos textos que prescrutava no computador...até que fui arrancada da cadeira por um desejo muito grande de ouvir, ouvir mesmo as palavras e a música dela.
Dei então comigo sentada no sofá, com o livrinho das letras à minha frente, a beber tudo sofregamente: autores das letras, instrumentos de cada faixa, análise de palavras, embalambo-me nos sons.
Tão bom, a maneira como ela usa os sons e as palavras!
Duas e três vezes as mesmas músicas até perceber que gosto mesmo do CD: da voz, das letras, da sonoridade, da companhia que pode fazer-me.
Leila Pinheiro de seu nome. Bonita nas fotos a preto e branco, linda na voz e nas teclas. Mais bonita ainda depois de ler na Wikipédia que abandonou os estudos de medicina para se dedicar a sério à música. O que eu muito lhe agradeço, pois tenho menos hipóteses de ser tratada por um médico brasileiro, do que de poder desfrutar da companhia que ela me pode fazer assim; assim como agora, em que parece que a minha casa ondula nos seus ritmos.
Tão bom, aprender algo de novo!
Reproduzo aqui as palavras da música que me fez abandonar o computador e dedicar-me a aprender a Leila numa concentração a tempo inteiro. Todas as outras são muito boas também. O CD chama-se «nos horizontes do mundo», assim mesmo, com letras pequenas na capa para letras grandes lá dentro.

Minha Alma (A paz que eu não quero ter)

"A minha alma
está armada e apontada
para a cara do sossego
pois paz sem voz
não é paz, é medo

Às vezes eu falo com a vida
às vezes, é ela que diz
qual a paz que eu não quero conservar
pra tentar ser feliz

As grades do condomínio
são pra trazer protecção
mas também trazem a dúvida
se é você que está nessa prisão

Me abrace, me dê um beijo
faça um filho comigo
só não me deixe sentar na poltrona
num dia de domingo

Procurando novas drogas de aluguel nesse video, coagido pela paz
que eu não quero seguir admitindo"

1 comentário:

Ninguém.pt disse...

A propósito de domingos...

Poema destinado a haver domingo...

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a Lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.


Natália Correia