Eu queria afastar-me do tema da morte, que me tem atormentado ultimamente, mas, hoje, é incontornável (como está na moda dizer) falar de Raul Solnado, precisamente porque se deu a sua morte física.
É que eu recordo - como creio que todos os portugueses - os discos do Solnado, que me lembro de ouvir no "Quando o Telefone Toca", à noitinha, já luz apagada, e com os quais me ria sempre, sempre.
A primeira peça de teatro que vi, ao vivo, numa sala de espectáculos (não me lembro qual) foi «Felizardo e Cª», protagonizada por Raul Solnado e Herman José (muito novinho...).
Era comum a utilização, lá em casa, de expressões criadas pelo Solnado: «Ranholas City e Vashington», «morrer com um ataque de caspa»; o cavalo com moscas e tudo; a Georgina, que dizia «pois», porque gostava muito de dizer coisas...E mesmo já cá em casa, quando para descrever o apartamento explico que «é preciso cortar as unhas dos pés para entrar na casa de banho».
Na realidade - descobri depois - a primeira vez que eu ouvi o Raul Solnado foi num disco que havia lá em casa, em que ele cantava em espanhol. Uma das canções (eram só duas: o lado A e o lado B) tinha como refrão a frase que serve de título a este 'post'.
Parece-me uma boa frase para recordar o Solnado, que tantas alegrias nos deu e que, no último programa que gravou para a RTP e que foi transmitido ontem, referia o Fialho Gouveia e acrescentava "De quem eu tenho saudades, todos os dias".
Agora também os amigos e o país poderão ter saudades de Raul Solnado, todos os dias.
Discreto, com ar tímido, uma fraca figura, marcou para sempre gerações em Portugal e influenciou muito do que hoje se faz (e ainda do que se devia fazer) na televisão portuguesa.
É sempre preferível rir que chorar e é quase impossível não misturar as duas atitudes ao saber da morte física do Raul Solnado.
Da morte física só, porque o Raul não morre, pelo menos enquanto o seu púbico estiver vivo.
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