sábado, 8 de agosto de 2009

O fim enunciado

No nosso ponto de observação habitual da esplanada, as conversas, hoje, são intercaladas por comentários a propósito das «cenas de vários casamentos».
Agosto, numa terra que conta com muitos filhos emigrantes, é o tempo dos casamentos. Quase que se instala como a época das sementeiras e das colheitas, a «época dos casamentos».
Falamos das roupas dos convidados, do fato da noiva (poucas vezes se comenta o noivo e, quando isso acontece, não é geralmente muito abonatório para o visado), o civismo das pessoas que «quase metem o carro dentro da igreja», a decoração das viaturas...
Invocam-se cenas de outros casamentos, vividos no altar ou no banco dos convidados e assim o tempo da conversa centra-se em festas e compromissos. Em exibições e em devoções, em tudo o que constitui a cerimónia de um casamento.
Já depois de nos separarmos ouço a loucura das buzinas, a zoeira alegre do anúncio ao mundo do enlace e não consigo deixar de pensar na frase lapidar: «Para o melhor e o pior, até que a morte os separe!»
E depois penso na separação, na morte.
Que morte os irá separar? A morte física, a morte dos sentimentos que os une agora ou a morte do tédio instalado de uma vida de rotinas em que os pequenos defeitos de cada um se tornam muros erguidos no meio da convivência?
Uma morte dessas vai separá-los, um dia.
Melhor que seja a morte do sentimento ou a do tédio instalado, pois viver a morte física de quem está ao nosso lado, ainda com o sentimento vivo, deve ser uma dor insuportável.
Quem consegue ultrapassar isso? Como se sobrevive a uma coisa assim? Como se conseguirá prosseguir a vida, suportar a sobrevivência, sem a companhia de quem escolhemos para amar e acompanhar? Como conseguir viver depois da morte súbita de quem se ama ou de acompanhar, lentamente, a morte anunciada, ao nosso lado, dia a dia, impotentes?
Melhor que a morte que os separe seja a do sentimento que os une. Por mútuo acordo. Melhor que tenham algo mau do outro para lhes suavizar as saudades, do que só o amor vivo a queimar o espaço de uma ausência definitiva.
Que Deus - que eles escolheram para lhes abençoar a união - os ajude a suportar a morte que, um dia, lhes marcar a separação...anunciada, desde o dia do compromisso: «até que a morte os separe!»

4 comentários:

Soldado disse...

Qual destes tipos de mortes será o mais triste? Morte fisica... Morte dos sentimentos...
Pois, não sei, mas a morte é sempre uma coisa pouco agradável, mas como diz por vezes necessária para que de seguida possa vir a bonança.
Falamos de fatos de casamento, mas no seguimento podemos também falar de roupas funebres ou de divorcio.
Mais uma tertulia desta vez sobre a logistica de um casamento....

Escrivaninha disse...

Não me fales em luto...pois há muitos anos luto contra o luto (se me é permitido o trocadilho),desde que vi as mulheres da minha família enterrarem-se em negro, por um período tão longo, que fez desaparecer as cores das suas vidas.
No fundo, por estes dias em que eu ando um bocado filosófica (e muita chata, confesso) as nossas tertúlias vão sempre dar ao mesmo: aquilo em que acreditamos e por que vale a pena lutar, por que vale a pena arricar desilusão. Não achas? Falamos de política, de Fé e de Compromisso. No fundo tudo são compromissos...dos quais eu ando muito arredada, ultimamente, clamando que «não vale a pena».
Eu sei que esta posição é estúpida e que não leva a lado nenhum e que, se a maioria das pessoas actuasse como eu neste momento, a Hunanidade já se tinha extinguido, (provavelmente devido ao tédio).
Ainda bem que há «soldados» empenhados em lutas que acreditam válidas, como eu já fui e como ainda tenho esperança de voltar a ser.
Creio que o que me está mesmo a fazer falta é voltar a enfrentar um auditório que me dê luta, para o qual eu ache que só tenho de dar bons exemplos e, ao fim de algum tempo a ser muito positiva por determinação, eu própria fico cheia de energia positiva.
Acho que é isso que me vai fazendo falta, nestes tempos de cansaço e em que dependo dos amigos para comunicar. Porque eu conclui que preciso de comunicar, como as plantas precisam do sol e da chuva.
Obrigada por estares atento e por participares e por me lembrares, com a tua força e empenhamento, que devemos ser «soldados» e não «treinadores de bancada».
Vou tentar seguir o teu exemplo.
Boas Férias!

Escrivaninha disse...

Num registo mais positivo: falar de roupas de divórcio pode vir a dar interessantes criações estilísticas. Achas que será um «nicho de mercado» a explorar? :-)

Soldado disse...

Nestes momentos de crise qualquer mercado é apetecivel para os comerciantes