Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
1 comentário:
Fecundação
Meu óvulo marcou um encontro
Com um espermatozóide
Às quatro horas da tarde
Na esquina das minhas trompas.
Meu óvulo esperou um bom tempo
Por quem não veio...
Caiu em depressão e saiu
Perambulando em mim,
Chocando-se com a solidão,
Na minha parede uterina.
E o assoalho inundou-se em sangue
Como um absorvente comprado
Às pressas numa farmácia...
Pareceu-me um suicídio!...
Meu novo óvulo marcou novo
Encontro com um novo espermatozóide
Às sete horas da noite
Na esquina das minhas trompas.
Identificaram-se...
Foram morar no meu útero,
Tipo casinha feita de ovo
Que virou sobradinho feito de afeto.
E eu sustentava aquela família
Através de um cordão umbilical,
Que não levava a ela o preço da carne,
Nem da luz, nem e nem...
Nove meses de espera
Dentro de um regime maternático.
Agora, numa dilatação de angustia,
Estou morrendo de dor:
Meu filho vai conhecer
O regime do País.
Wanda Cristina
Suponho que o óvulo da autora era um pouco menor e menos estrelado...
Enviar um comentário