domingo, 19 de dezembro de 2010

Corrigir a vida

"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê isto, leia-se aquilo..."
Érico Veríssimo in "Um Lugar ao Sol"

5 comentários:

Ninguém.pt disse...

Nem todas as erratas são ao nosso contento...

Errata

Onde se lê Deus deve ler-se morte.
Onde se lê poesia deve ler-se nada.
Onde se lê literatura deve ler-se o quê?
Onde se lê eu deve ler-se morte.

Onde se lê amor deve ler-se Inês.
Onde se lê gato deve ler-se Barnabé.
Onde se lê amizade deve ler-se amizade.

Onde se lê taberna deve ler-se salvação.
Onde se lê taberna deve ler-se perdição.
Onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.

Onde se lê Manuel de Freitas deve ser
Com certeza um sítio muito triste.


Manuel de Freitas

Escrivaninha disse...

Caramba, Mestre, como é que consegue? É uma verdadeira enciclopédia!

Estavam há pouco a dar uma reportagem sobre o êxito dos jogos de consola e de playstation e que já há alguns para aprender inglês. Que tal criar um jogo de palavras em que, mediante a palavra escolhida, a idade do jogador e o nível de dificuldade, pudessem ser consultados poemas e textos em prosa relacionados com a palavra? Poderia ganhar dinheiro com toda a agilidade que revela ao relacionar palavras com textos literários. Eu ofereço-me para oferecer os primeiros!

Boas Festas!

Ninguém.pt disse...

Miss, a internet é a grande enciclopédia e os mais jovens são os grandes conhecedores das suas potencialidades e da forma de a usarem.

Um jogo como o que sugere não teria êxito se não se injectasse nos jovens a curiosidade sobre a língua que falam, sobre a beleza da poesia e da prosa (e da proesia...).

E essa curiosidade é que anda muito diluída por jogos de armas disparando e carros chocando contra tudo e contra todos — com personagens morrendo e renascendo sem problemas nem traumas.

As boas festas é porque vai emigrar já? Está bem, então tenha um bom Natal, junto daqueles que mais ama e de tal modo seja ele que quando o recordar seja sempre de sorriso aberto.

Beijito.

Escrivaninha disse...

Meu amigo: o facto da informação estar disponibilizada em quantidade não a torna mais inteligível. Mostrar as várias cambiantes de cada tema e educar o gosto, ou dar ferramentas para apreciar criticamente a tal informação toda disponível, continua a ser, em meu entender, a grande função da escola.
E olhe que o panorama não é tão mau como às vezes parece: se as legendas da pedacinho do filme que se anuncia - Felipe e Letizia - nos permitem logo tropeçar em erros ortográficos, eu, que estou por aqui envolta em avaliações e formulários correspondentes, tenho muito boas notas para dar. E não por ser generosa...tenho mesmo bons alunos. Alguns escrevem muito, muito bem e têm dado provas de saber e gostar de ler. Nem todos, claro, mas que graça teria a uniformidade?

Adorei as suas boas festas. Abriram logo o sorriso.

Não, não vou emigrar já, mas adoro ir distribuindo 'Boas Festas' em grandes quantidades a todos quantos estimo.

Beijitos

Ninguém.pt disse...

Miss, ainda bem que abriu um sorriso — certamente iluminou a sua rua e até os vizinhos beneficiaram e sorriram também, já que é muito contagioso...

Não duvido da capacidade dos mais jovens, sei que têm essas capacidades muito mais desenvolvidas do que os jovens do tempo em que era também menininho.

O que eu disse é que há muita coisa a apelar à dispersão, não se concentram em nada em especial a não ser nos desafios que ainda por cima são negativos: destruir, matar, ressuscitar, destruir...

A culpa não é da escola, nem dos pais — talvez de ambos mas principalmente da sociedade de consumo que usa todas as suas armas para vender o que é bom mas fundamentalmente o que é péssimo.

Depois há as excepções, sempre houve. Bem-vindas sejam, apoiadas sejam, bem precisamos de cabeças para nos governar, porque estes que lá estão já deram provas de que melhor ficariam em casa.

Beijito.