Um homem, - era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
Machado de Assis
2 comentários:
Um contemporâneo de Machado de Assis:
O meu Natal
A noite de Natal. Em meu País, agora,
O que não vai até romper o dia, a aurora!
As mesas de jantar na cidade e na aldeia
à luz das velas,ou à luz de uma candeia,
Entre risadas de crianças e cristais
(de que me chegam até mim só ais,só ais!),
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
pondo de parte ódios, torturas, aflições,
que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
são todas em redor de uma toalha de linho!
António Nobre
Já não são apenas dois milhões de corações e já não se consegue pôr de parte "óddios, torturas e aflições" — mas o vinho continua a fazer adormecer...
Beijito, Miss. Boa noite de sonhos natalícios de farinha e abóbora, fritos e polvilhados de açúcar e canela. Se não comer todos, e antes de ficarem rijos, mergulhe-os numa cauda de açúcar em ponto pérola e eles durarão até aos Reis.
Miss, mais dois poemas, desta vez para se fruir o contraste entre os dois lados do Atlântico, este ribeiro que nos separa dos da outra margem...
Poema de Natal
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Fernando Pessoa
Poema de Natal
Dezembro é o cruel mês do natal,
hoje, a sua véspera,
além disso, faz um calor insuportável.
Há grande descontentamento no país,
enormes congestionamentos nas cidades
e as pessoas parecem felizes.
A miséria continua no seu galope
e as pessoas parecem felizes,
inclusive os miseráveis.
Esses se abundam nas calçadas
e mendigam com seus filhos
e com os filhos de outros desgraçados.
Negócio promissor...
Vou sair pra ver o mar!
Gustavo Felicíssimo
(Cuidado com as filhós, são muito traiçoeiras... Ainda no outro dia foram presas umas quantas por atentado à saúde pública: andavam a engordar a população inteira! E é sabido que apenas os corruptos podem engordar...)
Beijito.
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