que Carlos Pinto Coelho nunca mais Acontece neste nosso mundo.
Foi meu privilégio ouvi-lo muitas vezes, aprender muito com ele...é meu privilégio sentir e lamentar a sua falta e considerar que também ele influenciou a minha visão do mundo, da cultura e, felizmente, me fez conhecer o jornalismo de qualidade. Verdadeiramente, considero que é meu privilégio perceber a diferença entre o que aprendi com Carlos Pinto Coelho e o que lamento não aprender hoje com programas «alegadamente» jornalísticos.
E seguindo, mais uma vez as palavras de Carlos Pinto Coelho, revividas agora, ali, na televisão, fui à procura de uma referência sua a Octávio Paz, para aprender e guardar mais estas palavras:
"A maneira como morremos diz aquilo que fomos. A morte define a nossa vida. É um espelho que reflecte os gestos sem sentido dos vivos. A vida de cada um de nós — toda essa confusão de múltiplas acções, omissões, desgostos e esperanças que é a nossa existência — não encontra na morte um sentido ou explicação, mas um fim. A nossa morte ilumina a nossa vida. Se à nossa morte faltar sentido, é porque a nossa vida também não o teve. Cada um de nós morre da morte que procura, da morte que construiu para si próprio. A morte de um cristão ou a morte de um cão reflectem diferentes formas de vida."
1 comentário:
Carlos Pinto Coelho merece o meu profundo respeito pelo profissional que foi: vertical, empenhado, culto, indomável.
Conseguiu a proeza de ser saneado do "Diário de Notícias" por ser de direita e de lhe acabarem com um utilíssimo e até agora insubstituído programa cultural por ser de esquerda...
O que ele era, afinal, era apenas incómodo para os donos do poder.
Quem morre?
Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de o inicir,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda
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