domingo, 12 de dezembro de 2010

Domingo: Memória Descritiva

A Superinteressante deste mês traz, como chamariz de capa, um artigo sobe a memória. Antes de me ter apercebido da decisão, já a tinha comprado. E fiquei a pensar nisto: porque é que eu tenho este interesse (quase obcessão) por tudo o que se relaciona com a memória? Eu quero muito compreender a memória. Será por que sou de História? Ou será, precisamente o contrário, sou de História porque me interesso pela Memória?
História e Memória não são sinónimos. Embora a História seja uma Memória, nem sempre a Memória é uma História. Raramente é. A Memória aparece-me mais como um conjunto de fragmentos, que, conscientemente, nos esforçamos por arquivar como uma História: a nossa História.
E a Memória é a matéria-prima da História, mas raramente esta se reduz áquela.
Frequentemente fala-se da Memória no plural: as Memórias. Que se escrevem. Nunca aparece a Memória de...fulano de tal. Aparece-nos As Memórias...Como se estas fossem sempre plurais, mesmo quando se referem a um único fio de pensamento.
Ou talvez não. Talvez o pensamento é que não seja unilateral e por isso se descreva no plural.
E a História?
Também não é unilateral. Também é plural. Mas - sem saber porquê - a Históra perde credibilidade se for narrada no plural. As histórias não têm a mesma credibilidade que a História.
As histórias (estórias, do outro lado do mar) são de encantar. A História é um conjunto de exemplos primordiais: os heróis, os feitos pátrios, a construção da Europa, a descoberta do Mundo...
A História confere um carácter doutrinário à Memória - sempre unificada, quando passa para o lado de matéria científica.
Será?...
Continuam a fascinar-me os meandros das histórias e das memórias e das suas construções que nos surgem com a credibilidade da maiúscula e da unidade...ou unilateralidade...
No fundo, o que sempre me preocupa é esta certeza, que eu tenho, da necessidade da subjectividade, da mentira da objectividade, da narrativa impoluta que esconde o narrador...que sempre se assemelha ao «gato escondido com o rabo de fora», porque gato que é gato não é cão, e pessoa que é sujeito não pode ser - sem se automutilar - objectivo, ao descrever um objecto...que escolheu...objectivanmente?...
História e Memória são edifícios construídos. Com que pedras? Acho que essa é a minha demanda.

Sem comentários: