Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
domingo, 19 de dezembro de 2010
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4 comentários:
Mais estranho do que saber a língua — que poderiam ter aprendido por qualquer curso por correspondência com discos de vinil de 33 rotações — é serem branquinhos como suecos e de dois morenos ter nascido aquele menino loiro...
E tão pobrezinhos quanto eles, sem dinheiro para um quarto na estalagem, e tão bem vestidos, nada de remendos na roupa — presumo que quando se rompiam os davam a outros ainda mais pobres...
Natal (1988)
Menino Jesus feliz
Que não cresceste
Nestes oitenta anos!
Que não tiveste
Os desenganos
Que eu tive
De ser homem,
E continuas criança
Nos meus versos
De saudade
Do presépio
Em que também nasci,
E onde me vejo sempre igual a ti
Miguel Torga
Miss, venho partilhar consigo um soneto magnífico que me revelaram hoje.
Tanta coisa para descobrir na poesia portuguesa! E tantas delas tão preciosas!
Na tal
Na tal habitação volto a falar-te
Na tal que já eu próprio não conheço
Na tal que mais que tálamo era berço
Na tal em que de noite nunca é tarde
Na tal de que por fim ninguém se evade
Na tal a que sei bem que não regresso
Na tal que umbilical cabe num verso
Na tal sem universo que a iguale
Na tal habitação te vou falando
Na tal como quem joga às escondidas
Na tal a ver se tu me dizes qual
Na tal que eu herdei só este canto
Na tal que para sempre está perdida
Na tal em que o natal era Natal
David Mourão-Ferreira
Beijito.
Que lindo!
Cada vez mais acho que há um mundo por descobrir na literatura, mesmo naquela que já conhecemos, porque uma coisa é conhecer pela primeira vez outra vez é conhecer já conhecendo...e todo o processo de conhecer, conhecendo cada vez mais...
Este vai para o blogue dos meus meninos!
Beijito.
Miss, tem razão — e olhe que já é a terceira vez este ano que lhe dou razão, note bem!
Veja se o blogue dos seus meninos comporta também este segredo:
Coisas, pequenas coisas
Fazer das coisas fracas um poema.
Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.
Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.
Fernando Namora
Beijito.
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