Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
Porque é que os de casa não fazem milagres? Porque em casa não há santos — são todos nómadas, presos, deportados, conventuados, papados ou bispados, etc.
Não há santos que seja gente normal, que tenha casa, cônjuge, filhos, emprego — esse tipo de sacrifício nunca leva ninguém aos céus.
Leram-me hoje S. Francisco de Assis. Leram-me e pasmei. Como é que um homem que gostava tanto das coisas, Nunca olhava para elas, não sabia o que elas eram?
Para que havia de chamar minha irmã à água, se ela não é minha irmã? Para a sentir melhor? Sinto-a melhor bebendo-a do que chamando-lhe qualquer coisa. Irmã, ou mãe, ou filha. A água é a água e é bela por isso. Se eu lhe chamar minha irmã, Ao chamar-lhe minha irmã, vejo que o não é E que se ela é a água o melhor é chamar-lhe água; Ou, melhor ainda, não lhe chamar coisa nenhuma, Mas bebê-la, senti-la nos pulsos, olhar para ela E isto sem nome nenhum.
Alberto Caeiro
(Não sabia que em Leiria se falava o português com sotaqui do Brasiu...)
1 comentário:
Porque é que os de casa não fazem milagres? Porque em casa não há santos — são todos nómadas, presos, deportados, conventuados, papados ou bispados, etc.
Não há santos que seja gente normal, que tenha casa, cônjuge, filhos, emprego — esse tipo de sacrifício nunca leva ninguém aos céus.
Mas temos santos bem conhecidos, caminhantes:
Leram-me hoje S. Francisco de Assis
Leram-me hoje S. Francisco de Assis.
Leram-me e pasmei.
Como é que um homem que gostava tanto das coisas,
Nunca olhava para elas, não sabia o que elas eram?
Para que havia de chamar minha irmã à água, se ela não é minha irmã?
Para a sentir melhor?
Sinto-a melhor bebendo-a do que chamando-lhe qualquer coisa.
Irmã, ou mãe, ou filha.
A água é a água e é bela por isso.
Se eu lhe chamar minha irmã,
Ao chamar-lhe minha irmã, vejo que o não é
E que se ela é a água o melhor é chamar-lhe água;
Ou, melhor ainda, não lhe chamar coisa nenhuma,
Mas bebê-la, senti-la nos pulsos, olhar para ela
E isto sem nome nenhum.
Alberto Caeiro
(Não sabia que em Leiria se falava o português com sotaqui do Brasiu...)
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