sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Te Queria...

"Para jardim te queria.
Te queria para gume
ou o frio das espadas.
Te queria para lume.
Para orvalho te queria
sobre as horas transtornadas.


Para a boca te queria.
Te queria para entrar
e partir pela cintura.
Para barco te queria.
Te queria para ser
canção breve, chama pura."
 
eugénio de andrade : variações em tom menor
colhido em: http://serportuguesserportugues.blogspot.com/

5 comentários:

josé luís disse...

muito bem colhido!

(... e o anterior a este também era apetitoso, reparou?)

Escrivaninha disse...

Eu gosto de quase todos, mas a colheita depende de certos factores muito meus, que nem eu sei explicar...

Está lá um do Júdice, que eu adoro e que já colhi noutros campos do mesmo proprietário e que 'postei' no Salvo Seja.

josé luís disse...

embora a poesia (também) seja para comer, estava mesmo a referir-me ao caldo verde... :)

Escrivaninha disse...

Oh...e eu à procura do sentido poético da coisa...:-))

Ninguém.pt disse...

A Miss já reparou na fixação que o Eugénio de Andrade tinha pelas cinturas?

Além do poema que postou, veja mais três:

As palavras que te envio são interditas

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.



Passeio Alegre

Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.



Entre os teus lábios

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.


Eugénio de Andrade

Uma boa noite, Miss, cheia de jogos de cintura... dançando o hula-hula.

Beijito.