domingo, 28 de novembro de 2010

Cobardia

"Sentia agora que não podia haver humilhação maior. Como? Como é que ela não tinha percebido? Porque insistia em tentar que a chave coubesse na fechadura? Como não lhe tinha ocorrido?...
Não sabia o que a magoava mais: se o acto dele, se a pena do vizinho da frente quando abriu a porta e lhe disse: "Então não percebe que ele mudou a fechadura? Vá-se embora. Ele não a merece."
Odiava-se agora por ainda ter dito: "Não, não pode ser. Foi ele que me deu a chave...sem eu pedir..."
O homem fechou a porta frente à sua solidão, deixando-a assim, humilhada, impossibilitada de ignorar, de inventar explicações, de tentar protelar o fim.
Desfeita. Era como se sentia agora, na estação de comboios, no meio de toda aquela gente que não a podia ver, que a ignorava, que não queria saber dela, que não lhe exigiria a explicação que não queria dar a ninguém. Nem mesmo a si própria."

1 comentário:

Ninguém.pt disse...

Fácil resolução sem ter que dar a cara nem explicações — de facto tem apenas esse nome, Miss: cobardia.

Mais grave é que ela, provavelmente, ter-lhe-ia entregue a chave do seu coração — que assim ficou escancarado, ferido, sangrando por alguém que de facto a não merecia.

Os caminhos do amor são insondáveis — muitas vezes nem sequer sabemos como começam, quanto mais como irão acabar. Apenas sabemos, a maior parte de nós por ouvir dizer, que é bom e que enquanto dura é infinito — pelo menos a acreditar no poeta.

Bons sonhos, Miss, de preferência com portas onde caibam as suas chaves...
Beijito.