sábado, 14 de agosto de 2010

Por detrás do fogo, há outro fogo, que arde sem se conseguir ver

"É estranho que nasçam incêndios assim..." disse o repórter da Sic, em directo de Seia, informando sobre o nascimento "há 10 minutos", de uma coluna de fumo isolada, após a extinção dos incêndios dos últimos dias, na Serra da Estrela.

Que interesses e inércias a eles ligados estarão por detrás do continuado delapidar do património florestal? Que estranha força é a que tolhe a justiça de apanhar quem põe em perigo a vida e a saúde do país?

Os «soldados da paz», que abdicam das férias para proteger os outros, detentores da estrela de «voluntários», vão morrendo, por aí, ingloriamente...

O que se passa para que já esperemos os incêndios de Verão, a par da época balnear?

Tive um pai e um padrinho que foram bombeiros, dos quais me orgulho e, também por eles, todos os anos me indigno e não consigo compreender...

10 comentários:

Ninguém.pt disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ninguém.pt disse...

Desculpe, Miss, tinha posto aqui um comentário que ultrapassava claramente tudo o que é admissível:
• era demasiado longo
• era uma opinião de um leigo
• e tinha algo do fogo que me esturrica os miolos porque "lemos, ouvimos e vemos, não podemos ignorar"... mas vamos ignorando todos os anos e "botando o voto" sem voltar a recordar.

Decidi retirá-lo, não leve a mal, não?

Beijito.

Ninguém.pt disse...

Gedeão fala por mim, têm esse condão os poetas: amador sem coisa amada e, para além disso, subindo sempre além da chinela...

Amador sem coisa amada

Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.


António Gedeão

Escrivaninha disse...

Amador tem esse duplo sentido de quem ama e de quem não é profissional:Talvez para evitar a profissionalização no Amor...

As pessoas naturais da Amadora serão sempre amadores? Terão direito a ter carteira profissional de alguma coisa?

Falando a sério: essa coisa de «botar o voto» tem-me esturricado também bastante os miolos. Nenhum dos que por lá anda merece o nosso voto (na minha opinião) mas não podemos deixá-los pensar que não estamos cá e atentos. Se deixarmos de acorrer ao chamamento que esta parca democracia nos faz - creio que poucos mais vai havendo - podemos arrepender-nos demais. Que fazer? E o pior é que a malta nova não dá grande importância a isso de votar...Os meus alunos acham sempre muita graça quando eu digo que foi muito importante fazer 18 anos, porque já podia votar! Mas foi. E continuo a ir lá...cada vez mais tarde e mais devagar...

Ninguém.pt disse...

Acho que depois de deixarem de se chamar porcalhotenses (?!!!), os naturais da Amadora são amadorenses, ou estarei enganado?

(Bem, já tenho o capacete posto...)

Amador ser o contrário de profissional talvez tenha a ver com a dicotomia "quem faz por amor" versus "quem faz por dinheiro". Portanto, o amor, o tal fogo...

É por isso, por não usarmos as armas que temos, que somos todos responsáveis pelas políticas erradas que deram origem a este e a outros dramas.

Não valerá de nada tentar arranjar culpados — estão aqui, somos nós!

E este braseiro que torna negra de carvão a nossa paisagem tem "apenas" origem nas políticas adoptadas.

Ninguém.pt disse...


Dois e dois: quatro


Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena

Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena

como é azul o oceano
e a lagoa, serena

como um tempo de alegria
por trás do terror me acena

e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena

— sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.


Ferreira Gullar

(Porque complicamos as contas? Tudo simples se "Dois e dois: quatro"...)

Escrivaninha disse...

Somos amadorenses, sim (embora alguns ainda não muito amadurecidos!)

O nome de Amadora substituiu o de Porcalhota em 1907 - ainda em tempo do rei D. Carlos - mas, tal qual pilhas Duracell, durou, durou...

Já agora aproveito para esclarecer que o vocábulo tinha origem no nome do dono das terras - Vasco Porcalho. Estas, quando herdadas pela filha, passaram a ser «da Porcalhota.» Genericamente, os habitantes destas zonas eram «saloios».

Da origem do nome «Amadora» creio que pouco se sabe. Há referências a uma Quinta de S. José da Amadora...Mas, porquê Amadora?...

E pronto. Com uma prosazinha de História e concordando que a vida vale a pena, mesmo para quem não sabe a tabuada, lhe desejo uma Boa Noite!

Ninguém.pt disse...

Obrigado pela lição, Mestra!

É sempre um prazer assistir a uma aula sua — até porque são raras...

Olhando para a situação de há uns 20 anos, por exemplo, apeteceria dizer que o nome da sua terra se devia à forma pouco profissional como se fez o ordenamento do território. Felizmente tem vindo a melhorar, embora haja muita política errada, principalmente a que leva a construir mais e mais — como se houvesse falta de habitações!

Como não deve ter consumido em sonhos o que lhe desejei ontem, mantenho: sonhe com "esplanadas à beira-mar, brisas marinhas, salada de búzios e vinho verde..." — mas não se vicie, que o marisco tem elevado teor de carestia.

Beijito.

Escrivaninha disse...

Aqui vai o Beijito, que ficou esquecido na mensagem anterior e mais uma das rimas guardadas do passado:

Boa Noite Feliz
Não Caia da Cama
Não Parta o Nariz

:-)

Ninguém.pt disse...

Bom dia, Miss. Obrigado pela rima conselheira — consegui seguir as indicações.

Do poeta para a Mestra:

Não saibas: imagina

Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um á-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorri!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...


Miguel Torga

(Pois se vir um dos seus alunos voando ao colo das brisas, já sabe: ele segue avisados conselhos...)