quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Areias Movediças

Há muito tempo que não me lembrava dos filmes do Tarzan, em que havia sempre umas cenas (moderadamente aflitivas) em que alguém ficava preso nas areias movediças.

A selva tinha um código moral bastante simpático: se a pessoa pertencia aos maus, terminava ali o seu desempenho no filme, se era dos bons - Tarzan e pouco mais (aliás, não eram muitos os figurantes) - aparecia um elefante com a sua forte tromba, e salvava o nosso herói, para termos a certeza de que haveria outro filme.

E porque me lembrei eu de tudo isto?

Porque me estou a debater com a elaboração de um índice remissivo - que nunca pensei que fosse tão difícil! - estafadinha de todo e a lutar contra a lógica irracional dos computadores, que entra frequentemente em choque com a minha.

O único paralelo que estabeleço é com a aflição (dos bons) no meio das areias movediças, crente na força elefantina, das ajudas familiares, que lá vão «salvando a moça de letras» de ser engolida nas «areias movediças» tecnológicas.

1 comentário:

Ninguém.pt disse...


Canta


Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que
mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.


Joaquim Pessoa

(E sem deixar de cantar, agradeça de vez em quando ao autor...)