Há muito tempo que não me lembrava dos filmes do Tarzan, em que havia sempre umas cenas (moderadamente aflitivas) em que alguém ficava preso nas areias movediças.
A selva tinha um código moral bastante simpático: se a pessoa pertencia aos maus, terminava ali o seu desempenho no filme, se era dos bons - Tarzan e pouco mais (aliás, não eram muitos os figurantes) - aparecia um elefante com a sua forte tromba, e salvava o nosso herói, para termos a certeza de que haveria outro filme.
E porque me lembrei eu de tudo isto?
Porque me estou a debater com a elaboração de um índice remissivo - que nunca pensei que fosse tão difícil! - estafadinha de todo e a lutar contra a lógica irracional dos computadores, que entra frequentemente em choque com a minha.
O único paralelo que estabeleço é com a aflição (dos bons) no meio das areias movediças, crente na força elefantina, das ajudas familiares, que lá vão «salvando a moça de letras» de ser engolida nas «areias movediças» tecnológicas.
1 comentário:
Canta
Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que
mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.
Joaquim Pessoa
(E sem deixar de cantar, agradeça de vez em quando ao autor...)
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