sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ouvir e compreender implicam operações diferentes e não simultâneas

A Visão voltou a fazer-se presente cá por casa.

Como já fui assinante, de vez em quando, fazem esta gracinha: enviam duas ou três revistas - para ver se me avivam as saudades - e depois ligam a perguntar se não quero ser assinante de novo.

"Que não...muito obrigado...não é que não aprecie muito a revista...mas não quero ter obrigações...apetece-me ler outras vezes outras coisas...blá, blá blá..." - Foi no que pensei enquanto subia a escada com a revista na mão (depois de verificar se era mesmo para mim). "Olha, já que cá estás - disse eu, recuperando o hábito de falar para as coisas inanimadas que tanto encantara a minha sobrinha, em tempos - vou-te aproveitar e dar graças a Deus de não te ter comprado antes do café."

Comecei pela crónica do Ricardo Araújo Pereira. Eu adoro a maneira de escrever do Ricardo Araújo Pereira: utilizando os seus conhecimentos e convicções num texto completamente ao contrário. Para mim é o mestre da ironia! E também gosto muito quando raia o «non-sense». É uma prosa muito difícil, intrincada, desafiadora...Será que a maioria dos leitores compreende? Sei que parece elitista pensar assim, mas tenho tido tantas más experiências com o uso da ironia...

Depois, a propósito dos ecos que aqui andam e da generalização de falta de cultura geral que por aí vai grassando, lembrei-me de uma pequena anedota que acho deliciosa e que tem a ver com palavras:

Andava um casal de namorados a passear no campo e chegaram junto a um poço. A moça põe-se a experimentar o eco, gritando-lhe onomatopeias e deliciando-se com a sua repetição. Cansado da brincadeira infantil, o rapaz atira para o buraco escuro «Otor~rinolaringologista!» e recebeu como resposta: «Oto-Quê?...Oto-quê?...oto-quê?...»

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