domingo, 29 de agosto de 2010

Centenários

28 de Agosto de 1910 - O senhor da Serra

É anunciada no jornal O Século a romaria ao Senhor da Serra, que tem lugar a “pitoresca povoação de Belas”. O periódico refere que aquela romaria “chama, todos os anos por esta época, uma afluência extraordinária de forasteiros, que, à sombra das frondosas árvores da quinta do marquês vão, em ranchos, saborear os farnéis de que vão providos”. Por ocasião da romaria, Belas enfeita-se, sendo que o “burburinho e movimento de passageiros, que os comboios despejam a cada instante, tornam deveras curioso e interessante o espectáculo que (…) apresenta a estrada que liga a estação de Queluz ao antigo solar do marquês de Belas, coalhada de veículos de toda a espécie, desde a elegante vitória até à mais modesta carriola (…)”. Pela quinta vêm-se vendedeiras ambulantes e numerosos ranchos, acampados. Por ocasião deste evento foram destacados “forças de polícia e um pelotão de cavalaria, que ficarão às ordens do administrador co concelho de Cintra”.

Fonte: O Século n.º 10312, 28 de Agosto de 1910, p.1

colhido em http://www.centenariorepublica.pt/conteudo/28-de-agosto-de-1910-o-senhor-da-serra, agora mesmo

10 comentários:

Ninguém.pt disse...

Bem, para quem tinha esgotado a energia matinal, deve ter bebido um litro de 98 octanas...

A Miss está cá com uma pedalada!

Belas já não é de todo aquele subúrbio de quintas e solares — só devem ter restado, desses tempos, os saborosos fofos.

Para que durma bem, ofereço-lhe um ultimo poema...

Um rio de luzes
 
Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido


Ana Hatherly

... porque os "agoras" são intemporais.

(Também me lembrei da canção do Rui, mas achei-a um atentado à pudicícia e contive-me.)

Escrivaninha disse...

Há momentos em que nos apetece ser terroristas e cometer atentados. Mas posso sempre evocar que estava ébria de sono e que há hora a que me acusou do atentado, já eu dormia, em fôfos sonhos (devo ser, por isso, ininputável...ou talvez não...)

Sobre Belas, sempre me lembro da «bela» quadra popular:

Fui a Belas ver as belas
Mas eu as belas não vi
Porque as belas que eu vi em Belas
Não eram tão belas com'a ti!
:-)

Bom Dia!

Ninguém.pt disse...

Bom dia, Miss!

Quanta energia, de novo! Tem a certeza de que não anda a beber demasiado "Red Bull"? Atenção aos efeitos secundários, terciários e outros -ários...

Cuidado, eu não a acusei de nenhum atentado — ’tadinho de mim! Eu só disse que se fora eu a falar da cançãozita poderia ser tomado como atentado — são coisas diferentes.
Assim como a modos que sendo um polícia a entrar armado no aeroporto é segurança; se for eu é terrorismo — topa?

Aqui para nós que ninguém nos ouve: nunca fui a Belas — nem à procura delas nem de fofos...

E por associação (não criminosa!) de ideias um montão de dúvidas:

As coisas belas

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr-do-sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?


António Gedeão

Um bom dia, a 3000 r.p.m.

Escrivaninha disse...

Pois Belas era a freguesia a que pertencia o lugar em que nasceu a minha mãe. Que se afirmava «saloia de gema». E é no cemitério de Belas que estão sepultados os meus pais e avós.

Desde pequena convivi (e muito bem!) com os fôfos. E sempre ouvi falar da Romaria do Senhor da Serra e da quinta e do senhor da Quinta, mas já nada disso é do meu tempo. São as narrações da minha mãe, que por cá continuam...

E que, pelos vistos, estão a ser recuperadas, no âmbito do centenário da República, que vai dando que falar e que escrever.

Ninguém.pt disse...

Já vi tudo: a Miss é mesmo especialista em Belas.

Muitas vezes ficam mais vincadas as imagens que associamos àqueles que amamos do que as que os nossos próprios viram — também me acontece o mesmo. Chego a "ver" através das descrições que me foram feitas de pessoas, lugares e factos.

Um trava-línguas belense (será este o gentílico?):

Fui a Belas para ver velas,
mas em Belas velas não vi,
porque as velas que não iam para Belas
eram as velas que iam daqui.

Escrivaninha disse...

Pois, cada um é para o que nasce. Gostaria de ser uma das belas especialistas, mas só posso ser considerada especialista em Belas...

Penso que devia experimentar os fôfos de Belas e as belas...nunca se sabe...se conseguir «bêlas», aproveite! :-)

Ninguém.pt disse...

Então, Mestra, tento na língua! Não se pode fazer com as belas o que se faz com os fofos...

E como poderei "bêlas" se elas se escondem atrás de móveis?

Só se fora o Super-Homem, com visão de raio X.

O Super-Homem

Abro a janela e solto-me no espaço.
A vida é um pátio aberto em plena escola,
para onde eu vou, com pasta e com sacola,
toda manhã, de sol ou de mormaço.
Queria ser igual ao Homem-Aço,
para voar mais alto do que a mola
que tenho no meu peito ou do que a bola
que impulsiono a correr e sem cansaço.
Na linha das montanhas, me liberto
e eis que percorro todo o espaço aberto,
como no pátio alegre do recreio.
Sou mais que o Super-Homem, pois não tenho
os limites quadrados do desenho,
para conter meu voo e meu anseio.

Reynaldo Valinho Alvarez

Escrivaninha disse...

Ah, «eu tenho para mim» que as Belas estão apenas à espera de ser «bistas».

«Bem bistas as coisas» deve ter sido o que aconteceu à outra desgraçada, que esperou tanto que adormeceu.

E lá diz a história da Bela Adormecida, creio que mais de 100 anos depois: «Era uma vez...»sem exemplo! :-))

Ninguém.pt disse...

E para ver essas Belas sai-se na estação de Queluz, não é?

A outra, a adormecida, coitada, nem assim escapou de ser assediada por um príncipe com a mania que era dono de todas as belas que visse...

A história não conta, vai só até aos muitos filhos, mas com princípio tão pouco auspicioso, será que o casamento durou assim tanto ou só até a bela abrir bem os olhos e reparar que não era um objecto parideiro?

Nunca saberemos de ciência certa, claro. Mas por extrapolação podemos imaginar o que poderá ter acontecido.

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.


Ferreira Gullar

Escrivaninha disse...

Bolas! Há quem saiba arruinar uma historinha!

Às vezes não faz mal a fantasia nublar um bocadinho o realismo. Mesmo sabendo que «há dragões que têm medo», é bom acreditar no Super-Homem...Mas, como sou republicana, preferia que não fosse Príncipe!