sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Há eco aqui!

"Não chegaram pelo correio ou por um entregador, como nos filmes que via.

As flores foram simplesmente deixadas à porta. Num arranjo de florista, com um papel verde frisado; estavam no tapete de entrada quando abriu a porta. Levantou-as e olhou em volta. Ninguém. Recuou no seu intento de sair, fechando a porta com estrondo. (Tudo fazia muito mais barulho numa casa vazia...os ruídos eram amplificados...)

Pousou-as desajeitadamente sobre a única mesa da casa. Mirou o ramo, durante uns segundos, antes de se decidir a abrir o envelope.

Um poema. Tinha um cartão com um poema escrito, sem qualquer data ou assinatura ou texto mais pessoal.

Sem nem sequer ter consciência disso, fez um ar sério e colocou a voz de forma a ter melhor dicção. Leu: "Sempre um de nós foge".

«Foge», «foge», «fog...

Nunca o eco lhe parecera tão inquietante; habituara-se até a viver com ele, mas falava cada vez menos em voz alta, é verdade.

Assim, repetido, o aviso...que também podia ser um apelo, uma premonição...

Sabia que era só o eco, mas, pelo sim, pelo não, leu o resto do poema em silêncio."

8 comentários:

Ninguém.pt disse...


O eco


O menino pergunta ao eco
onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: "Onde? Onde?"

O menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"

Mas não sabe se eco é amigo
ou inimigo.

Pois só lhe ouve dizer:
"Migo!"


Cecília Meireles

Há ecos que são reconfortantes, aconchegam-se-nos ao darem a certeza de que não estamos sós...

Escrivaninha disse...

"- Não estamos sós?...
Oz...Oz...Oz...
- Ah...afinal era uma brincadeira do Feiticeiro!"

Ninguém.pt disse...

http://www.youtube.com/watch?v=bznOHTP0vNk

Sei que o vídeo já tem a letra, mas não é o mesmo:

Feiticeira

De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada

De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado

De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido

De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.


Luís Represas

... e se o eco nos responder "u... u... u..." tanto pode ser o vento como o lobo mau, pois qualquer deles uiva assim.

Escrivaninha disse...

Adoro esta música. E a letra...«I wish»!

Escrivaninha disse...

(e devo confessar - entre parêntesis, claro - que até adoro a versão em que entra um espanhol. Há deles...)

Escrivaninha disse...

Pronto, pronto! Já me fui informar, já sei que não é espanhol e que é dos bons (até gravou com o Chico Buarque!)

Está bem, estou muito básica, sim, mas acho que o meu cérebro tirou férias e estas referências a histórias infantis, com feiticeiras e lobos maus, despertou em mim aquela vontade de dividir o mundo entre «os bons» e «os maus». Como antigamente. Quando o «assim-assim» não era permitido.

Ninguém.pt disse...

Miss, tem o capacete posto?

Sabendo eu o desprezo que vota aos espanhóis, dizer assim "um espanhol" já seria crime de lesa personalidade.

Mas sendo o Pablo Milanés cubano, e conhecido como patriota mais ou menos apoiante do sistema vigente lá na terrinha, nem quero imaginar o que lhe diria ele...

Agora a sério: também gosto muito da versão bilingue e gosto do Pablo a cantar a solo, como aqui, na mais conhecida das canções dele:

http://www.youtube.com/watch?v=sct0-7rs2zY&NR=1

(Há várias versões, incluindo uma brasileira, "Iolanda", pelo Caetano Veloso.)

Ninguém.pt disse...

Bem, o que faz atender um telefone enquanto se escreve um comentário...

Saiu atrasado.

Me disculpe, sim?