sábado, 28 de agosto de 2010

Passar à História

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."

Mário Quintana

5 comentários:

Ninguém.pt disse...


O passado é o presente na lembrança


Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.


Ricardo Reis

Escrivaninha disse...

O passado não existe: existiu. Assim nos ensina a Língua Portuguesa, na conjugação dos verbos.

Se o passado existe, então não é passado, mas sim presente.

Então e a História, como fica? Trata do passado ou do presente? Faz do passado presente? Leva o presente para o passado?...

Não admira que muitos putos fiquem passados com a História que se lhes apresenta!

Escrivaninha disse...

Faltam as aspas na última frase, obviamente. :-)

Ninguém.pt disse...

Bom dia, Miss!

Que desperta acordou hoje, passe a redundância. Logo com disposição de resolver enigmas de passado vs. presente!

A gramática tenta criar normas para que nos possamos entender através da linguagem — se não existissem características que nos permitissem distinguir os tempos, que confusão se instalaria.

Mas, quanto a mim, leigo em quase tudo e muito mais em relógios de tempo e em tempo de relógios, não existe fronteira definida entre passado, presente e futuro — de tal forma que quando falamos do presente ou do futuro imediato já estamos a referir o passado, visto o tempo não parar para nós acabarmos a enunciação iniciada.

Apenas o futuro mediato tem tempo de vida suficiente para se manter afastado de nós, gozando com a nossa incerteza e desfrutando da ansiedade que nos provoca por não se desnudar ante nós.

A História, essa vejo-a como senhora calma, com a calma de quem passou já o tal paralelo difuso em que todos os tempos se confundem. E com o verbo sempre no tempo que lhe convém mais, embora quando se afasta de nós tenda a usar cada vez mais o conjuntivo e o condicional.

Será, talvez, falta de memória — ou também ela misturando factos, sonhos, desejos? Respondam os mestres em tal disciplina.

(Calculo que não concorde, e a sua é a opinião abalizada, portanto a que é justo que prevaleça, mas eu continuo a pensar que a História devia ser ensinada do hoje para o ontem.)

Escrivaninha disse...

Adoro estas discussões, enquadradas - em termos académicos - na Teoria e na Didáctica da História.

Já uma vez concordámos em estar de acordo sobre o ensino da História, lembra-se?

Mas hoje foi um dia grande, que esgotou a energia que, de forma perspicaz, observou na minha manhã.

Retiro-me, pois, sem tentar sequer ripostar, esperando que noutras ocasiões possamos discorrer sobre estes assuntos paradoxalmente intemporais.

Beijito