Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
sábado, 28 de agosto de 2010
Passar à História
"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."
Se recordo quem fui, outrem me vejo, E o passado é o presente na lembrança. Quem fui é alguém que amo Porém somente em sonho. E a saudade que me aflige a mente Não é de mim nem do passado visto, Senão de quem habito Por trás dos olhos cegos. Nada, senão o instante, me conhece. Minha mesma lembrança é nada, e sinto Que quem sou e quem fui São sonhos diferentes.
Que desperta acordou hoje, passe a redundância. Logo com disposição de resolver enigmas de passado vs. presente!
A gramática tenta criar normas para que nos possamos entender através da linguagem — se não existissem características que nos permitissem distinguir os tempos, que confusão se instalaria.
Mas, quanto a mim, leigo em quase tudo e muito mais em relógios de tempo e em tempo de relógios, não existe fronteira definida entre passado, presente e futuro — de tal forma que quando falamos do presente ou do futuro imediato já estamos a referir o passado, visto o tempo não parar para nós acabarmos a enunciação iniciada.
Apenas o futuro mediato tem tempo de vida suficiente para se manter afastado de nós, gozando com a nossa incerteza e desfrutando da ansiedade que nos provoca por não se desnudar ante nós.
A História, essa vejo-a como senhora calma, com a calma de quem passou já o tal paralelo difuso em que todos os tempos se confundem. E com o verbo sempre no tempo que lhe convém mais, embora quando se afasta de nós tenda a usar cada vez mais o conjuntivo e o condicional.
Será, talvez, falta de memória — ou também ela misturando factos, sonhos, desejos? Respondam os mestres em tal disciplina.
(Calculo que não concorde, e a sua é a opinião abalizada, portanto a que é justo que prevaleça, mas eu continuo a pensar que a História devia ser ensinada do hoje para o ontem.)
5 comentários:
O passado é o presente na lembrança
Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.
Ricardo Reis
O passado não existe: existiu. Assim nos ensina a Língua Portuguesa, na conjugação dos verbos.
Se o passado existe, então não é passado, mas sim presente.
Então e a História, como fica? Trata do passado ou do presente? Faz do passado presente? Leva o presente para o passado?...
Não admira que muitos putos fiquem passados com a História que se lhes apresenta!
Faltam as aspas na última frase, obviamente. :-)
Bom dia, Miss!
Que desperta acordou hoje, passe a redundância. Logo com disposição de resolver enigmas de passado vs. presente!
A gramática tenta criar normas para que nos possamos entender através da linguagem — se não existissem características que nos permitissem distinguir os tempos, que confusão se instalaria.
Mas, quanto a mim, leigo em quase tudo e muito mais em relógios de tempo e em tempo de relógios, não existe fronteira definida entre passado, presente e futuro — de tal forma que quando falamos do presente ou do futuro imediato já estamos a referir o passado, visto o tempo não parar para nós acabarmos a enunciação iniciada.
Apenas o futuro mediato tem tempo de vida suficiente para se manter afastado de nós, gozando com a nossa incerteza e desfrutando da ansiedade que nos provoca por não se desnudar ante nós.
A História, essa vejo-a como senhora calma, com a calma de quem passou já o tal paralelo difuso em que todos os tempos se confundem. E com o verbo sempre no tempo que lhe convém mais, embora quando se afasta de nós tenda a usar cada vez mais o conjuntivo e o condicional.
Será, talvez, falta de memória — ou também ela misturando factos, sonhos, desejos? Respondam os mestres em tal disciplina.
(Calculo que não concorde, e a sua é a opinião abalizada, portanto a que é justo que prevaleça, mas eu continuo a pensar que a História devia ser ensinada do hoje para o ontem.)
Adoro estas discussões, enquadradas - em termos académicos - na Teoria e na Didáctica da História.
Já uma vez concordámos em estar de acordo sobre o ensino da História, lembra-se?
Mas hoje foi um dia grande, que esgotou a energia que, de forma perspicaz, observou na minha manhã.
Retiro-me, pois, sem tentar sequer ripostar, esperando que noutras ocasiões possamos discorrer sobre estes assuntos paradoxalmente intemporais.
Beijito
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