Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
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3 comentários:
É mesmo, Miss, é bem bom!
Ainda cheguei a pensar que era o tal netinho (que insistêncis, hein?)...
Mas não podia ser, tinha que passar pela fase anterior, mais ou menos assim:
Canção para a minha filha Isabel adormecer quando tiver medo do escuro
Nem sombra nem luz
nem sopro de estrela
nem corpinhos nus
de anjos à janela
nem asas de pombos
nem algas no fundo
nem olhos redondos
espantados do mundo
nem vozes na ilha
nem chuva lá fora
dorme minha filha
que eu não vou embora
António Lobo Antunes
(o Vitorino canta isto...)
Mas parabéns, Miss! Que se repitam muitos episódios de que se possa orgulhar — afinal são momentos de felicidade que recordamos em imagens a sépia indelevelmente gravadas na memória...
Imagens a sépia é um recurso de linguagem «bem gráfico». :-)
Mestre, aqueles de que nos orgulhamos não têm de ser ncessariamente nossos descendentes, nem de família. E, sendo de família podem ser ascendentes ou colaterais.
Aqueles que amamos são também aqueles que nos amam, às vezes, antes até de termos nascido.
Obrigado pelo esclarecimento, não fazia a mínima ideia, Mestra...
Ascendentes, descendentes, colaterais — até parece uma lição de fluxo de trânsito.
No comboio descendente
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada -
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela -
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não -
No comboio descendente
De Palmela a Portimão...
Fernando Pessoa
(com pequenas alterações do Zeca)
Quando à grafitice do sépia, dizem os entendidos que é nessa cor que sonhamos e que, quando recordamos um pormenor de uma cor específica, esse pormenor aparece pintado por cima da imagem sépia — como agora se usa fazer na publicidade a preto e branco.
(A ironia, Miss, é o pecado que cometemos em conjunto: ambos desatamos ao tiro ao irónico...)
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