Ando para aqui a estudar a 1ª República no distrito de Leiria. Jornais antigos para cá, jornais antigos para lá...vou-me perdendo a ler coisas que não são necessárias para o meu trabalho, mas que acho interessantes.
Uma das coisas que se foi perdendo no tempo é o hábito de versejar sobre os temas da actualidade (talvez agora tenha sido substituído pelos artigos de opinião, ou pelos cartoons, não sei...).
Sobre a reforma ortográfica de 1911 (qualquer semelhança com a realidade actual não é pura coincidência) houve discussão acesa na imprensa e, como não podia deixar de ser, alusões humorísticas à questão.
No jornal Novidades, em 1911, saiu uma dessas observações, em verso e com humor. Cá vai:
"Com a tal ortographia
que vae ser modificada
anda tudo em gritaria
e ninguém percebe nada.
Deixa o x de figurar
nos alphabetos de cá
e eu terei de me assignar
Xavier com ch.
Em tal ponto não concordo
nem a gente que me lê,
mas leitor, estou de acordo
o pôr cedilha no c.
N'outros tempos em folia
já o Banana, coitado
quando chouriço escrevia
punha-lhe um c cedilhado."
reproduzido no Notícias de Alcobaça, de 14 de Maio de 1911 e citado na publicação Ecos do Século XX, Distrito de Leiria, p. 22
1 comentário:
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
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