quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Uma tarde inteira numa reunião


E a recordação da Menina do Mar que esteve no Algarve!
Procura-se a dona desta chinela...Qual Cinderela, pretende ser encontrada para um casamento feliz com a Escola.

6 comentários:

Ninguém.pt disse...

Como se nota alguma desilusão na sua voz, Miss, nada melhor que voltar à infância para ter de novo todos os sonhos, todas as ilusões.

«[…]
Sentaram-se os dois um em frente do outro e a menina contou:

— Eu sou uma menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vazia e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim. Vivemos os quatro numa gruta muito bonita. O polvo arruma a casa, alisa a areia, vai buscar a comida. É de nós todos o que trabalha mais, porque tem muitos braços. O caranguejo é o cozinheiro. Faz caldo.verde com limos, sorvetes de espuma, e salada de algas, sopa de tartaruga, caviar e muitas outras receitas. É um grande cozinheiro. Quando a comida está pronta o polvo põe a mesa. A toalha é uma alga branca e os pratos são conchas. Depois, à noite, o polvo faz a minha cama com algas muito verdes e muito macias. Mas o costureira dos meus vestidos é o caranguejo. E é também o meu ourives: ele é que faz os meus colares de búzios, de corais e de pérolas. O peixe não faz nada porque não tem mãos, nem braços com ventosas como o polvo, nem braços com tenazes como o caranguejo. Só tem barbatanas e as barbatanas servem só para nadar. Mas é o meu melhor amigo.

Como não tem braços nunca me põe de castigo. É com ele que eu brinco. Quando a maré está vazia brincamos nas rochas, quando está maré alta damos passeios no fundo do mar. Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito. Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia branca, lisa. Tu és da terra e se fosses ao fundo do mar morrias afogado. Mas eu sou uma menina do mar. Posso respirar dentro da água como os peixes e posso respirar fora da água como os homens. E posso passear pelo mar todo e fazer tudo quanto eu quero e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Grande Raia. E a Grande Raia é a dona destes mares. É enorme, tão grande que é capaz de engolir um barco com dez homens dentro. Tem cara de má e come homens e peixes e está sempre com fome. A mim não me come porque diz que eu sou pequena de mais e não sirvo para comer, só sirvo para dançar. E a Raia gosta muito de me ver dançar. Quando ela dá uma festa convida os tubarões e as baleias e sentam-se todos no fundo do mar e eu danço em frente deles até de madrugada. E quando a Raia está triste ou mal disposta eu também tenho que dançar para a distrair. Por isso sou a bailarina do mar e faço tudo quanto eu quero e todos gostam de mim. […]»


Sophia de Mello Breyner Andresen, «A Menina do Mar»

(Não que isso me incomode, mas chamo a atenção que casando a Cinderela com a Escola será um CPMS...)

Beijito.

Ninguém.pt disse...

Por falar em chinela, uma das suas amadas:

http://www.youtube.com/watch?v=OJpF6rvgWcE

Maria Lisboa

É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata;
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata.

Em vez de corvos no chaile,
Gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
Tem algas na cabeleira,
E nas veias o latido
Do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria,
Seu apelido: Lisboa.


David Mourão-Ferreira

Escrivaninha disse...

CPMS - Casamento Para a Morte os Separar?

Eu gosto de ser professora! Muito, mesmo!

Quer dizer...eu gosto mesmo muito de dar aulas e não gosto nada de tudo aquilo em que se está a tornar a profissão docente. Especialmente as reuniões com pessoas que parecem acéfalas de tão assertivas, sem demonstrar um pingo de pensamento próprio.

Ninguém.pt disse...


Ser professor


Ser professor é ser artista
malabarista,
pintor, escultor, doutor,
musicólogo, psicólogo...

É ser mãe, pai, irmã, avó,
é ser palhaço, bagaço...
É ser ciência e paciência...
É ser informação.

É ser acção,é ser bússola, é ser farol.
É ser luz, é ser sol.
Incompreendido?... Muito.
Defendido? Nunca.

O seu filho passou?...
Claro, é um génio.
Não passou?
O professor não ensinou.

Ser professor
é um vício ou vocação?
É outra coisa...
É ter nas mãos o mundo de amanhã.

Amanhã.
Os alunos vão-se...
E ele, o mestre, de mãos vazias,
fica com o coração partido.

Recebe nova turmas,
novos olhinhos ávidos de cultura
e ele, o professor, vai despejando
com toda a ternura, o saber, a orientação
nas cabecinhas novas que amanhã
luzirão no firmamento da pátria.

Fica a saudade
A amizade.
O pagamento real?
Só na eternidade.


Autor anónimo, professor da UNL,
(segundo o site da Direcção Regional da Educação dos Açores)

(CPMS = Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo)

Escrivaninha disse...

Lindo, o poema, que vou «salvar».

A Escola não é uma pessoa, é uma instituição. E casada estou eu, tenho é dúvidas quanto à felicidade deste matrimónio...Mas porque se alteraram as condições constantes do contrato pré-matrimonial!

Ninguém.pt disse...

Mas quem falou em casar a Cinderela com a Escola?

Não fui eu, certamente...

Verdade que a Escola é uma instituição, mas a Cinderela também já o é, ’tadita, ao fim de tantos anos a ser contada e recontada!