domingo, 5 de setembro de 2010

Viagens Sedentárias

"Cada cidade é um enigma imóvel, um cromossoma vivo, uma memória inquieta."

Gonçalo Cadilhe, A Lua Pode Esperar, p. 71

4 comentários:

Ninguém.pt disse...


Uma cidade


Uma cidade pode ser
apenas um rio, uma torre, uma rua
com varandas de sal e gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos
de granito.

Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso

numa noite
de junho.

Uma cidade pode ser
um coração,
um punho.


Albano Martins

Ninguém.pt disse...


Cavaleiro do cavalo de pau


Vai a galope o cavaleiro e sem cessar
Galopando no ar sem mudar de lugar.

E galopa e galopa e galopa, parado,
E galopa sem fim nas tábuas do sobrado.

Oh!, que brabo corcel, que doídas galopadas,
– Crinas de estopa ao vento e as narinas pintadas!

Em curvas pelo ar, em velozes carreiras,
O cavalo de pau é o terror das cadeiras!

E o cavaleiro nunca muda de lugar,
A galopar, a galopar a galopar!…


Afonso Lopes Vieira

Ninguém.pt disse...

Olhando de repente para a página do blogue, liga-se imediatamente o título "Viagens sedentárias" com a imagem a seguir — dando a impressão, pelo copo quase vazio (ou longe de estar cheio...) que as viagens se dessedentaram. E ainda por cima com sumo de laranja bem docinha, como só há por esses lados.

Oh Vera
Nem toda maçã
Apodrece
Nem toda laranja
É de sumo
Nem todo limão
Emagrece.


Gustavo de Castro

Este fulano não conhecia essas laranjas, certo que não!

Escrivaninha disse...

Macacos me mordam!

Gostei mesmo muito deste comentário: uma ligação perfeita entre palavras, imagens e sons.

Boa noite, Mestre!