terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando é que eu me vou habituar a viver no mundo dos adultos?

E lá se passou o primeiro dia...
Com muitos sorrisos, muita festa, muita algazarra.
E as primeiras reuniões de trabalho.
Mas foi um dia estranho.
Cheio de emoções contraditórias.
Se a sinceridade dos cumprimentos de alguns me deixou verdadeiramente emocionada, outros houve, em que eu quase juraria ouvir o sibilar da serpente.
E não consigo evitar um arrepio. E é muito violento para mim, manter-me firme, afivelar um sorriso de plástico, retribuir entre-dentes o cumprimento e resistir ao impulso gaiato de fugir, de me refugiar num canto da sala e ainda gritar, depois de me sentir protegida: «Não gosto de ti!»,
como uma criança.
Com quando ainda não tinha percebido que a hipocrisia às vezes é precisa, sobretudo como reacção aos hipócritas com quem convivemos.
Parece que alguns, consideram mesmo, que a hipocrisia faz parte das regras da civilização. E já não é de agora! Muito, muito antes do «politicamente correcto».
Vejamos:
"Existem infinitamente mais homens que aceitam a civilização como hipócritas do que homens verdadeiramente e realmente civilizados, e é lícito até perguntarmo-nos se um certo grau de hipocrisia não será necessário à manutenção e à conservação da civilização, dado o reduzido número de homens nos quais a tendência para a vida civilizada se tornou uma propriedade orgânica."
Sigmund Freud, in As Palavras de Freud

E mulheres, então...

1 comentário:

Ninguém.pt disse...

Por falar em hipocrisia...

Não me peçam razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.


José Saramago