segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Declaração de Amor

A conversa já ia adiantada quando entrei no café.
A mulher era rechonchuda, tinha um ar franco e saudável, um ar maternal: aquela maneira entre o ternurento e o prático, de quem limpa narizes ranhosos, enquanto termina a sopa e dita a solução de um exercício de matemática a um estudante menos aplicado. Tinha sobretudo um ar franco, honesto, limpo. Falava alto, com voz límpida.
- É muito bom homem, o meu António. É que é mesmo. Eu, às vezes penso...se voltasse atrás, casava com ele outra vez. Eu gosto mesmo daquele palerma, o que é que eu hei-de fazer?...
Não era uma actriz de Hollywood, por isso não falava em «paixão inigualável»; não era uma princesa do Walt Disney, por isso não falava em «felicidade para sempre»...
Era uma mulher real, com voz franca e sem «melanzices», que declarava que voltaria a casar com «aquele palerma».
E o tom com que ela o disse - tão puro, tão simples - tornou aquela frase na declaração de amor mais sentida que eu já ouvi. Na fala de uma mulher feliz, que reduz tudo à simplicidade de se sentir acompanhada pelo «palerma da vida dela».

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