domingo, 6 de setembro de 2009

Eu devia saber

Como professora de História eu não me devia espantar.
Eu sei que a História está cheia de sacanas.
Mas - oh, pá! - quando eles me aparecem à frente, ao vivo e a cores, e a safarem-se melhor que os que merecem, porque sempre foi assim...não dá!
Eu devia saber!
Mas afinal eu acredito sempre que isto devia melhorar!
Snif!

3 comentários:

Ninguém.pt disse...

História? É a reposição de falácias e orgulhos de quem nada fez...

Perguntas de um operário letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas


Bertold Brecht

P.S.: Ouvir na voz inconfudível de Mário Viegas aqui: http://www.imeem.com/hertzonline/music/hHobfhei/

Anónimo disse...

Aqui fica, a pedido.

Ainda assim, vale a pena ...


Não serei o poeta de um mundo caduco

Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades dolorosas,
paixões trágicas e não correspondidas.


Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.
Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.


A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim
E transborda em ternuras, em melodias,
em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.


Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.


Faço minha estrela brilhar.
Sem receio dos encontros, desencontros,
encantos e desencantos que o amor me diz.


Contrariedades? Eu as tenho.
E quem não as tem na vida secular?
Escassez de dinheiro? Nem é bom falar.
Amores não correspondidos? Separações?
Rejeições? Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,
sem a contra parte do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.


Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar
sobre eles, procurando a solução
se a própria vida me conduz
a resposta final?


Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali
por onde os caminhos, as trilhas,
os atalhos me levarem, traçando meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que felicidade
é o contrário de tristeza?
Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!


É, amigo, amanhã é sempre um novo dia
E quando a infelicidade passar por aqui,
minhas malas estarão prontas
para eu ir por ali.

Carlos Drummond de Andrade

Escrivaninha disse...

Obrigada a ambos. Adorei os poemas e ouvir de novo Mário Viegas! :-)
Amigo Mendes: A História responde às perguntas que lhes fazemos! Dantes só quem «sabia perguntas para fazer à História» eram os descendentes dos poderosos e orgulhosos. Se trabalharmos - muito - para que cada vez mais todos sejamos «operários letrados» a História poderá responder-nos de forma cada vez mais interessante. Porque sempre lá estivemos todos. Só não nos deixavam existir nos relatos...