Por estas alturas a terra que me acolheu ganha uma dinâmica muito própria e uma atmosfera cosmopolita.
Para além das excursões organizadas, que durante todo o ano vão passando e quase não param, agora há muita gente dispersa a circular. As matrículas dos carros denunciam diferentes origens, as sonoridades evocam países distantes, de origem ou de longas permanências. São comuns as frases começadas em português com um pequeno sotaque adquirido em anos de emigração ou as conversas bilingues; que os nossos emigrantes costumam trazer os autóctones que os acolheram para conhecer as maravilhas do país a que sempre sonham retornar na reforma.
Do nosso ponto de observação, na esplanada habitual, a geografia das gentes que povoa o espaço ao redor do monumento é completamente diferente no Verão. Durante todo o ano existem grupos que caminham ordeiramente atrás do guia junto à parede do monumento, que normalmente só tiram fotos depois da visita e que retornam em fila indiana para o seu autocarro. Agora, existem pequenos grupos espalhados pelo terreiro, em pose para as fotos, em admiração de diferentes perspectivas, a olhar à volta a seu bel-prazer, sem a direcção turística de uma qualquer agência comercial.
Entram nos cafés, esforçam-se por dizer o nome dos bolos, vão ao correio comprar selos, enviam postais ilustrados, entram no lugar da fruta e apreciam os produtos da região.
Sentem, respiram, circulam pela terra, que é só nossa durante o Inverno, mas que se renova no Verão.
Para o património que eu idolatro todo o ano, o Verão é a Primavera, o tempo em que tudo se renova por aqui, o tempo em que o Mosteiro volta a ser o espaço de encontro de culturas que sempre foi. E de reflexão. E de convite a uma religiosidade que pode até nem ser necessariamene católica, mas que nos faz «ajoelhar mentalmente» perante tal realização da Fé - Património da Humanidade, de direito e de facto.
Como pequeninos insectos os turistas espalham-se pelo terreiro. Alguns falam francês, como os primeiros monges que apostaram no desenvolvimento deste território.
Semicerro os olhos e juro que vejo o Mosteiro sorrir, os sinos como olhos a contemplar o espanto que hoje, ainda e sempre vai causando.
É a minha terra no Verão, a renovar-se para a austeridade monástica do Inverno.
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