sábado, 25 de julho de 2009

Popular e Alentejano

Quente, mas leve, como tudo em mim, neste sábado, que serve de separador entre etapas, de uma empreitada, cujo tempo se vai escoando no cumprimento do caderno de encargos.

"Tinta Verde dos teus olhos
escreve torto no meu peito
Amores tenho eu aos molhos
se pró teu me faltar jeito
Amores tenho eu aos molhos
se pró teu me faltar jeito
Tinta verde dos teus olhos
escreve torto no meu peito"


Vitorino (lembram-se?)

"Passei à tua porta, vi raminhos d'hortelã;
Queres casar comigo, hã?"


Contada numa mesa de café, entre amigos, por este país afora...

3 comentários:

Ninguém.pt disse...

Por falar em casar, "ouçamos" José Mário Branco:

Casa comigo, Marta

Chamava-se ela Marta
Ele Doutor Dom Gaspar
Ela pobre e gaiata
Ele rico e tutelar
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar
– Casa comigo Marta
Que estou morto por casar
– Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
– Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
– Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos
– Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
– Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho rédeas p'ra mandar
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar
Tenho meios de sobra p'ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além-mar
– Casas comigo Marta
Que eu obrigo-te a casar
– Casar contigo, não maganão
Só me levas contigo dentro de um caixão


Sérgio Godinho

Escrivaninha disse...

E por falar em Marta:
Eu lembro-me disto na voz de Carlos Mendes.

Lúbrica

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente

Lançaste no papel
As mais lascivas frases
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados,
Traçaram do prazer
Os quadros depravados.

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso.

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu neles sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas.

Teus olhos imorais,
Mulher que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!

Cesário Verde

Ninguém.pt disse...

Depois de casar, vêm os filhos. Então:

Poema enjoadinho

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!


Vinicius de Moraes