quinta-feira, 2 de julho de 2009

Circunlóquio

Pode existir uma "pessoa" sem ser "humana"?
Então, para quê, nos discursos politicamente correctos - até na própria legislação (essa, espera-se, que seja politicamente correcta) - utilizar a expressão "pessoa humana"? Não será tão censurável como "subir para cima" ou "descer para baixo"? Não é possível subir para baixo, nem ser uma pessoa não humana...
Eu iria terminar este texto falando nos pleonasmos, mas, quando consultei o dicionário para ter a certeza do que estaria a escrever, descobri este sinónimo, muito mais...mais...colorido.
Superfluidades desta democracia bem-falante!

3 comentários:

Ninguém.pt disse...

Estou em cima de um escadote a pintar o tecto.
Quando quero descer, o meu ajudante diz: "Desce para cima desse banco."

O alçapão para o sótão tem por cima uma mesa. Quando subo para o sótão, subo para (de)baixo da mesa...

Língua traiçoeira...

Escrivaninha disse...

'Touché!' Mas as pessoas são todas humanas: não há pessoas que não sejam humanas e não há humanos que não sejam pessoas.

Ninguém.pt disse...

Priberam:

humano
(latim humanus, -a, -um)
adj.
1. Do homem ou a ele relativo.
2. Bondoso, benfazejo, compassivo.

Em relação a 1, não tenho a mínima dúvida de que todas as pessoas são...

Infelizmente, em relação a 2... você terá que concordar que, enfim, antes fossem todas as pessoas assim.

Em relação a pessoa, diz o Priberam, entre outras coisas:

Ser moral ou jurídico

Por exemplo, uma empresa é uma pessoa jurídica...

Mas concordo: na linguagem mais vulgar, pessoa = humano, humano = pessoa. Portanto, será um reforço enfático, uma redundância, um pleonasmo.

O circunlóquio é mais quando estamos a rodear o tema, quando usamos perífrases em vez de irmos directos ao assunto. Por exemplo: "andar à volta de uma tema de modo a evitá-lo" em vez de "contornar".