quarta-feira, 22 de julho de 2009

A cair da tripeça

É mais ou menos como eu me sinto, depois de ler e reler, escrever e reeescrever o mesmo texto, que me sobra em páginas pelo definido para o trabalho...a entregar...hoje...não, ontem...já não foi...tenho de reduzir... talvez amanhã...o tempo escasseia...
Porque hei-de ser tão palavrosa?
Para guardadora de palavras podia guardar algumas e não atirar com todas elas para o texto, mais esta, e aquela...ficam tão bem juntas...
Vaidosa de escrever, arrebico-me em estilos inúteis para o carácter do trabalho.
E ainda sobra...
Acho que vou dormir...
Não sei se consigo dormir. Vou sonhar com o trabalho que sobra em palavras para o estipulado.
Se ao menos não fosse tão vaidosa e tão ciosa com a minha escrita. Contava palavras, cortava no estilo, deitava fora três ou quatro citações...
Não sou capaz.
Cortar palavras é demais para mim.
Detesto espartilhos, não me deixam respirar!
- Mas sabes que tem de haver limites!
- Claro que tem de haver limites. Escrevi 27 páginas porque o limite era de 20. A professora sabia o que fazia! Se o limite fosse 50, estava eu a tentar reduzir as 72.
Valha-me Deus! Que mania de escrever!
E nem me sobrou tempo para aprender a andar nos sapatos de salto-agulha que tem a minha gerente de conta no banco. Isso é que era! Mulher imponente, faz virar cabeças!
Na próxima incarnação vou ser bonita desde pequenina e aprender a andar em sapatos de salto-agulha e talvez não tenha problemas para arrumar palavras... Resolve-se tudo com um sorriso de sapatos de salto-agulha. Aquela mulher nem precisa de falar! Sorri de cima dos sapatos e sabe-se que vai conseguir o que quer.
Valha-me Deus! O que é que eu faço ao texto?...E ainda por cima com sapatos rasos!

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


A sílaba


Toda a manhã procurei uma sílaba.
É pouca coisa, é certo: uma vogal,
uma consoante, quase nada.
Mas faz-me falta. Só eu sei
a falta que me faz.
Por isso a procurava com obstinação.
Só ela me podia defender
do frio de janeiro,
da estiagem do verão. Uma sílaba.
Uma única sílaba.
A salvação.
de Ofício de Paciência.


Eugénio de Andrade

Escrivaninha disse...

Ai, a sílaba! Que às vezes muda a tónica do texto, é o torna claro como a água (tónica, claro).
Mas quem dominar as sílabas, de forma a arruma-las perfiladas como um exército dentro dos limites definidos para um texto e a seguir calçar uns sapatos de salto-agulha e for dançar, com um sorriso...tem a minha admiração incondicional!