sexta-feira, 3 de julho de 2009

O que poderá vir por aÍ?

Tarefa impossível - e já nem sei se desejável - ensinar aos alunos o valor de uma discussão aberta, franca e civilizada sobre qualquer assunto. Dizer-lhes que em democracia devemos respeitar-nos todos uns aos outros, que um debate tem regras...Nem a autoridade da sabedoria popular serve já de nada: "Quando um burro fala o outro abaixa as orelhas"...
Porque afinal, definitivamente com ordenados muito acima do que merecem, quando um fala, outros fazem "àpartes (provocatórios) para que o Ministro ouvisse" e a um dos mais altos representantes da Nação "salta-lhe a tampa", "foge-lhe o pé para o chinelo" e sai de cena por entre os lamentos de uns e os elogios ao seu trabalho de outros.
As primeiras páginas dos jornais de hoje fizeram-me desacreditar na educação: aqueles senhores andaram na escola, têm cursos superiores, aceitaram um mandato para a mais séria das tarefas - Governar a Pólis, ser Político. E devolvem-nos o mandato que lhes demos nestes espectáculos deprimentes.
Que bela campanha eleitoral emana do próprio Parlamento!
Mas, se desacreditarmos na Democracia, se deixarmos de nos escandalizar com estas situações, o que nos poderá acontecer?

3 comentários:

Ninguém.pt disse...

Que bem que ficam aqui e agora as primeiras quadras de uma canção imortalizada por Adriano Correia de Oliveira:

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
[…]

Manuel Alegre

Mas nada de confusões: isto não está bem, não! Mas não se compara ao tempo em que esta canção foi cantada pela primeira vez.
Fazer comparações dessas, só pode quem nunca viveu naqueles tempos e os desconhece ou quem pretende branquear o que neles acontecia...

Escrivaninha disse...

Espero que não tenha compreendido no meu texto que eu acho que "o antigo regime" era melhor. Muito pelo contrário.
Em traços largos creio que só existem dois tipos de regimes: a democracia e a ditadura (embora esta possa ser de «sinais» diferentes). Não tenho a menor dúvida que quero viver em democracia! E continuar a participar nela, ou pelo menos a acreditar que conto para alguma coisa...
Mas o que me assusta - e muito - é a desistência das pessoas, as vozes que dizem "que era melhor não sabermos as coisas todas" ou "que se alguém tomasse conta disto e endireitasse o país era o melhor".
O Fernando Dacosta dizia há tempos na SICNotícias que o Salazar foi um produto do país, que foi o país que criou o Salazar e que podíamos criar outros...(eu sou fã do Dacosta e tenho tendência a acreditar no que ele diz).
O que eu receio é que estejamos a desperdiçar a nossa democracia! E preocupam-me as consequências disso.
Não acredito em meias liberdades: ou há liberdade ou não há. Emboa ache que é necessário saber cuidar da Liberdade. E para isso era fundamental um investimento muito sério na educação - numa verdadeira educação para a cidadania democrática!

Ninguém.pt disse...

De modo nenhum li no seu texto essas entrelinhas. O meu comentário foi para quem pudesse extraí-las do que eu escrevi e do facto de recordar Adriano e os idos de finais de 50, princípios de 60.

A democracia é sempre a soma do empenhamento dos povos. Infelizmente, somos muito individualistas e habituámo-nos a ter um "salvador" que pensava e agia por nós.

De facto, Salazar nunca poderia aparecer agora – não teria cabimento. Porque, como você disse, os ditadores são produto dos tempos que se vivem – muito mais do que o contrário.

Hoje em dia as coisas são mais subtis. Afinal "subtileza" foi sempre o que mascarou cada nova forma de exploração: escravos, servos da gleba, operários, trabalhadores, consumidores... Sempre uma nova prisão, um pouco mais subtil.

Mas longe de mim defender que a ser escravo era melhor do que ser servo da gleba... A subtileza foi sempre o ardil que os poderosos foram obrigados a usar para que, mudando, tudo continuasse mais ou menos na mesma.

Viva a democracia! Usarei todos os meios para a defender.