Fundador da Antropologia Estruturalista, Lévy-Strauss era o único membro centenário da Academia Francesa - nasceu em 1908 e morreu em 2009.
Lévy-Strauss é um nome que eu tenho por referência desde o Liceu.
Numa época em que não havia «estudo acompanhado», eu estudei sozinha o Livro Raça e História de Claude Lévy-Strauss. Bem...sozinha, não. Foi a professora de Antropologia que me despertou o interesse pelo tema; pelo tema da Antropologia em geral, pelo autor em especial.
É muito bom, hoje, poder recordar uma boa professora, pois, atacados como estão os professores actualmente, parece que não haveria dos bons. Eu tive. Alguns foram de uma importância extraordinária na minha vida. Por vezes, na altura, não dei grande importância ao que alguns disseram, mas hoje reconheço como foi fundamental, como se reflecte na minha personalidade e na minha profissão.
O gosto pelo francês e por tudo o que diz respeito à cultura francesa também deve ter vindo do Liceu e depois foi muito aprofundada na Universidade, com muitos professores formados na Sorbonne.Eram os ecos do Maio de 68, quase 20 anos depois, nos corredores e nas bibliografias da Faculdade de Letras!
A Lévy-Strauss, nas minhas leituras, juntou-se André Leroi-Gourhan- que eu sempre confundo, talvez pelo som, pela grafia, pela afinidade de alguns temas antropológicos - que estudei nas aulas de Pré-História, na análise das gravuras rupestres.
A morte de Lévy-Strauss trouxe-me os ecos de épocas povoadas pelo prazer de aprender, pela descoberta e pela investigação, que foi tão bom recordar agora quando sinto a minha competência posta em causa por sistemas de avaliação burocratizados, pelo preenchimento de muitos e muitos formulários que procuram esmiúçar em múltiplos itens as trocas todas que se dão num grupo de aprendizagem.
Foi bom, muito bom, recordar o tempo em que eu estudava porque queria aprender; mais tarde em que eu aprendia porque queria ensinar e em que eu ensinava porque queria nunca parar de aprender...
Saudades da Liberdade de Aprender! Com pensadores como Lévy-Strauss; que nos deixou agora, mas ficará sempre na sua obra.
3 comentários:
as suas palavras sobre os tempos de estudante tiveram um grande impacto em mim.
também eu recordo com uma enorme saudade o tempo em que os professores eram, para mim, tudo aquilo que devem ser - transmissores de conhecimentos mas também formadores, educadores e potenciadores do que há de melhor em cada aluno.
naquele tempo o meu pedro nunes ainda era um liceu normal (com e sem aspas, passe a ironia), uma escola recheada de grandes professores, a maior parte creio era mesmo orientadora de estágios de outros professores.
hoje sei que muito do que sou o devo a todos eles.
como já lhe disse tive a honra de ter rómulo de carvalho como professor. não foi só ele, mas foi muito por causa dele que fui para química (sempre com dúvidas entre letras e ciências).
no ist tive a sorte de ter também professores brilhantes, alguns pouco ortodoxos, mas sempre extraordinários. destaco o professor romão dias (recentemente falecido) e o professor jorge calado, meu querido mestre de termodinâmica, que me mostrou na prática (como já tinha acontecido no liceu) que se pode ser de ciências e cultivar as letras (ele ainda é hoje uma das pessoas que escreve sobre ópera e fotografia no caderno de cultura do semanário «expresso»).
hoje vejo «isto» que acontece na educação, que não entendo muito bem, e fico nostálgico e até algo triste...
(mas confesso que ler pessoas como a escrivaninha e saber que ensinam me restauram a esperança... conto consigo, estou consigo)
Mas eu estou quase a desistir...
E a lutar muito, muito. Sobretudo comigo.
Cada vez que dou uma aula renovo a esperança, cada vez que tenho uma reunião, percebo que não vou aguentar muito tempo.
Só para fazer uma ideia...(só para eu me sentir confortada, por saber que alguém lê...) este primeiro período lectivo terei, pelo menos 18 reuniões de conselhos de turma, a que acrescem as de Departamento e outras.
Ainda só consegui ver uma turma de testes, das seis que tenho...porque estou em reuniões ou ocupada com burocracias.
Muitas vezes penso que devo sair, outras penso que não me devo deixar derrotar por uma trupe de burocratas!
E assim vou vivendo.
Obrigada pelas suas palavras. São mesmo muito importantes para mim.
Uma questãozinha: qual o nome de autor que ponho nos seus poemas que «roubar» para os meus refúgios de palavras? josé luis? assim mesmo, sem maiúsculas?
essa questãozinha não é tão "zinha" assim...
olhe, o nome completo é josé luís borges de almeida, mas assim não fica bem (apesar do joão miguel fernandes jorge e desse farol dos nomes completos que é jorge nuno pinto da costa).
portanto parece ser josé luís ainda o melhor [e agora vejo como são cómodas certas mobílias ;--)]
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