quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Fintar a morte...

"A escrita é a fixação gráfica do pensamento, da palavra, forma de linguagem silenciosa e solitária, arma imbatível da memória de povos e do ser humano contra o esquecimento. A escrita não exige a presença material dos participantes no acto da comunicação, que se estabelece à distância entre quem escreve e quem lê e se mantém através dos tempos, ignorando quaisquer limites temporais. À efemeridade da comunicação oral opõe a escrita a sua perdurabilidade intrínseca. Cada vez que alguém a lê, a palavra escrira, "ressuscita" aquele que a escreveu, no momento em que a escreveu (...)"

Maria Alice Vila Fabião, O Tempo e as Palavras, Revista Tempo Livre (Inatel), nº 209, Novembro de 2009

3 comentários:

josé luís disse...

we are not alone...

como é bom perceber que anda tanta gente a pensar na "palavra fabulosa" e nos paradoxos do espaço e do tempo ligados à palavra oral/escrita.

...e como é bom perceber que (pelo menos na nossa correspondência escrita...) eu e a escrivaninha nos tornámos por fim imortais!

Escrivaninha disse...

E modestos...que nós somos!
Eu ainda me vou escondendo atrás das gavetas...
Mas não é esse o desejo de tantos e tantas que querem imortalizar-se pelas palavras? Quando abro um livro, antigo, esquecido há muito, penso sempre como teria sido o seu autor/autora e o que esperaria que eu pensasse quando, muitos anos depois, descobrisse o livro.
O texto da Mª Alice Fabião - que vale a pena ler na íntegra - foi escrito num dia em que ela tinha estado a arquivar e catalogar livros antigos.

josé luís disse...

não é imodéstia, a sério...

a verdade é que estas palavras saíram de nós (que não existimos a não ser neste "éter" da web) e ficaram escritas, não sei durante quanto tempo, e poderão ser lidas por outros, e neles causar um impacto, e talvez da sua leitura outras palavras possam nascer...

se tal acontecer, as palavras nossas (que pareciam estéreis num ecrã) terão enfim cumprido todo um ideário de propagação das espécies... afinal a condição necessária e suficiente para a "imortalidade" dos seus autores originais, não é?

[...em tal caso, de que vale uma guardadora de palavras, salvo seja!, esconder-se atrás de gavetas? ;-)]