segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Majestic

3 comentários:

josé luís disse...

se é aquele em que estou a pensar, este é um "must" da invicta (como eles se auto-denominam).

e ora aí está um café que não me importava nada que estivesse em lisboa - e que pudesse ser de algum modo um café literário...

Ninguém.pt disse...

Em Lisboa o fausto é menor, mas existe, por exemplo, n'A Brasileira...

Cinco horas

Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto… A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber…

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente…)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha ideia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades…

(Que história d’oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou…)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.


Mário de Sá-Carneiro

Escrivaninha disse...

Caríssimos:
É o da Invicta, sim.
E claro que também temos em Lisboa excelentes ex-libris de cafés literários, mas, «impressões de viagem» colhemos quando viajamos e eu em Lisboa não viajo: estou. Ser de um lugar às vezes impede-nos de valorizar os contextos que tanto amamos e que mostramos a outros com o valor que têm, mas que, por vezes, não fotografamos, não escrevemos, não gravamos.
Adoro escrever num café!(E adorei o poema de Mário de Sá-Carneiro)
Às vezes penso que por petulância, por «chic cultural», talvez por ter esperança que quem me olhe a escrever num café acredite que sou uma escritora...
O que é certo é que, em certos cafés - especiais - a escrita flui. Será que existem vibrações escrivinhadoras por lá aninhadas? Talvez de outros tempos de outras almas, de outras inspirações...
É sempre agradável conversar à volta de uma chávena de café!