segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Segunda-Feira

"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.

A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?

Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar, o perdão

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar


Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!

Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de "desinventar"

Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

(...)

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia


(...)"


Chico Buarque

3 comentários:

josé luís disse...

... desculpe,
mas não percebo
essa etiqueta
«palavras vãs»...

Escrivaninha disse...

Sorte a sua! Essa etiqueta é o resultado de uma doença profissional, causada pelas condições de vida no microclima em que habito há uma década, dirigido pela mesma figura há um quarto de século; é o resultado de uma luta interna muito grande em que estou a sair vencida por mim mesma, pois estou a sentir-me verdadeiramente desalentada. De tal forma que mudei o sentido de muitas palavras: se antes usava o rifão «água mole em pedra dura tanto bate até que fura» para incentivar à persistência, hoje invoco-a para justificar a inutilidade da resistência.^
Quando se considera «resistência» uma palavra vã...não nos podemos sentir bem connosco próprios.
Se calhar a etiqueta era mesmo um pedido de socorro.
Obrigada por estar atento!

josé luís disse...

confesso sentir alguma inabilidade em lhe poder enviar o comentário que as suas palavras merecem, pois desconheço o seu microclima e a sua luta interna... mas referiu a «inutilidade da resistência», um asunto que me é muito familiar - gostava de a convidar a visitar a minha foto incompleta de 30 de agosto, dedicada a duas fotografias obtidas numa parede da igreja do loreto no chiado, no espaço de um mês... talvez possa contribuir para a inutilidade da resistência (não estou a ser irónico... bem, talvez só um bocadinho)