segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Diferença de Conceitos ou só de Palavras?


Lá estávamos nós a analisar esmiuçadamente mais umas caricaturas para compreender o ambiente dos séc. XVIII e XIX, quando me dou conta de uma discussão entre duas garotas que deveriam estar a fazer o trabalho de forma colaborativa.
Afinal a discussão era porque uma delas insistia que também se poderia chamar «cartoon» àquele tipo de desenho e a outra dizia que não.
Pois eu achei que sim, e que a diferença era de uma palavra importada para um género de crítica que nós já usávamos há muito tempo.
Assunto encerrado.
Mas, agora, aqui em casa, lá fui procurando na net e, embora nunca apareçam como sinónimos, as duas expressões não me parecem diferir na definição: a mensagem, o desenho satírico, o exagero de certas características físicas de uma personagem...A palavra cartoon está mais associada ao desenho animado...talvez...mas não vejo grande diferença.
Se alguém me puder esclarecer melhor...
E já que era para «ilustrar os tema» não resisti a colocar a clássica Porca da Política, do Genial Bordalo Pinheiro.
Sem segundas intenções...só mesmo para ilustrar o tema.

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Falar de governo faz-me sempre lembrar Brecht:

Dificuldade de governar

1
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?


Bertold Brecht

Escrivaninha disse...

Eu devia ler Brecht!
Confesso que nunca li Brecht.
Para mim, Brecht está associado a umas peças de teatro que a televisão passava logo a seguir ao 25 de Abril - que eu via, porque sempre gostei muito de teatro - que me deixavam uma sensação incómoda de algo que estava mal, que era muito sofrido, mas que na realidade não percebia.
A minha mãe brincava: "Hoje dá Brecht ou dá alguma coisa que preste?" (sempre se brincou com as palavras lá por casa).
Não tinha idade para perceber Brecht...
Depois o tempo passou e eu nunca li Brecht. Mas, sempre que coloca aqui palavras dele, penso que gostaria de o ler.
Um dia tenho de resolver esta falha!