segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Para Escrever o Poema

"O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.
O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.


O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.


Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.


Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.
Então, o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.


Mas um pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.


A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.


E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.


E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito."

Nuno Júdice

3 comentários:

josé luís disse...

... e bem feito.

;)

Ninguém.pt disse...


Data e dedicatória


Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho,
Se existe hora, é sempre a hora estrema
Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
Um poema é de sempre, Poeta:
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez ainda nem tenha nascido,
Dedica, pois, os teus poemas.
Não os dates, porém:
As almas não entendem disso...


Mário Quintana

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

Será? Será que de facto os poemas transcendem o tempo? Não sei...tenho dificuldade em encarar alguma coisa fora do tempo...

Se bem que o Poeta tem sempre um olhar especial sobre o mundo que o rodeia. Mas tem sempre a ver com o mundo que o rodeia...

Eu acho que (talvez) seja uma questão da Poesia captar - ou debruçar-se sobre - coisas que se estendem pelo tempo fora e às quais, erradamente, chamamos intemporais: a essência do Humano, os sentimentos, os medos, o interior de cada um de nós, que, independentemente da tecnologia que nos vai permitindo comunicar o que nos vai cá dentro, não muda muito com o tempo.

Olhe, acho que isto hoje não me saiu muito bem...Um bocadinho confuso e também, receio, não muito coerente.

Foi o que se pôde arranjar, já no fim de um dia abençoado por Todos os Santos.

Beijito