segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O que eles me ensinam

Pensei em criar outro blogue dada a importância do tema. Mas, sejamos sinceros, eu já nem vou tendo muito tempo para este...de que me serviria criar outro? Seria um passo mais para a desmotivação, o sentimento de culpa por não estar a cumprir os meus objectivos e poderia até dispersar os fãs :-)
Mas o tema é de facto muito importante, ou vai sendo cada vez mais importante para mim, como uma bóia de salvação nas águas agitadas de uma profissão docente que se afunda em estatísticas e burocracias, para tentar responder aos ditames de uma crise criada e alimentada pelo capitalismo...Tudo isto tão contrário ao espírito das Ciências Sociais e Humanas, o barco em que eu ingressei nesta viagem, há muitos anos atrás e que vais sendo desconsiderado nesta corrida pelo lugar nos rankings de critérios que não interessam «nem ao Menino Jesus».
(Usava-se muito esta expressão lá em casa e eu nunca percebi se era porque, sendo o Menino Jesus uma criança e como tal curiosa, se não lhe interessava a Ele não interessaria a ninguém ou se, dada a inteligência de Jesus, se não lhe interessava a Ele não seria de todo interessante para nós, seus seguidores).
Surgiu-me a expressão como adequada pois que também do que interessa aos meninos, ou de uma visão muito particular dos jovens e das crianças, trata este "subtema" que quero introduzir por aqui: o que os alunos me vêm ensinando!
Sabemos que circulam pela Internet - e até já em livros publicados - as asneiradas dos alunos, mas onde estão as palavras deles que nos admiram? ou nos fazem admirá-los?
Dia a dia encontro bálsamo para a vida nas horas lectivas. Vale a pena ensinar! Não tenho a menor dúvida. Mas o que me fascina, me encante, me enternece, me espanta e me cativa, é o que vou aprendendo e recordando com eles.
Por vezes penso que os professores encontraram a tão procurada fonte da juventude. Nós - se quisermos, e só se o soubermos fazer - estamos sempre a aprender (ou a não esquecer) o que é ser jovem.
A indignação, a ingenuidade, a genuinidade dos sentimentos, está ali, à nossa frente, a interagir connosco, a lembrar-nos que, apesar de nós estarmos a ficar velhos, a juventude continua a fluir incessantemente no mundo, com as suas inquietações, as suas urgências, os seus desesperos e a sua vontade intrépida (e crédula) de mudar o mundo.
A hipótese de mudança, de redenção, de salvação, de continuidade, está ali sentada, à nossa frente, e tem voz e ideias e interrogações que precisam ser respondidas.
É mais fácil fazer perguntas que dar respostas e esse, penso eu, é o maior desafio da Educação. Ensiná-los a fazer perguntas e ajudá-los a procurar as respostas.
Mas, algumas vezes (e não são muitas, não, mas por isso é que é preciso guardá-las por aqui) são eles que nos dão as respostas, que nos mostram os caminhos, que nos mantêm viva a esperança.
A ideia então - numa nova etiqueta deste blogue que guarda palavras - é assinalar aqui as palavras dos alunos que se vão constituindo bálsamos e ensinamentos para a minha vida e por vezes o leme que me recorda por que entrei neste barco e porque vale a pena mantê-lo a navegar.
"Palavra de Aluno" é então a nova etiqueta deste blogue. Espero que não resvale para o cinismo nem para a piada fácil de anunciar as suas asneiras e erros grosseiros, mas que mantenha o rumo de guardar as palavras excepcionais geradas nas novas gerações, que encaro como faróis de esperança na actual borrasca mundial.

Sem comentários: