domingo, 9 de outubro de 2011

Homo familiaris queixinhas

"Há milénios que o homem anda a inventar maneiras de salvar o Homem. Cristianismo, islamismo, hinduísmo, judaísmo, espiritismo, comunismo e mais uma longa fila de qualquercoisismos têm infindáveis propostas para elevar ao céu, ao nirvana, ao estado operário, ou ao que quer que seja, o Homem, com H grande. Já com a salvação do homem, com h minúsculo, ninguém parece estar preocupado. 
(...)
O homem moderno, caro leitor - e, sobretudo, cara leitora -, precisa de ajuda e salvação. o homem moderno precisa de mimo como nunca precisou desde que o primeiro australopiteco mostrou o nariz ao planeta, vai para quatro milhões de anos. O homem moderno precisa de um livro como este: orgulhosamente queixinhas, que a gente não é de ferro."

Tavares, João Miguel, Os homens precisam de mimo: como sobreviver a uma família e ser feliz, Lisboa, A Esfera dos Livros, Agosto de 2011 (3ª edição), pp. 9-11

Uma abordagem dos mais recentes desenvolvimentos do processo de hominização. :-)

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


Mimo


Metade dos problemas nacionais deve-se não à falta de meios, não à falta de talentos, não à falta de vontades, mas a uma falta mais grave: à falta de MIMO. O Mimo é aquela coisa pequenina que nos faz sentir suficientemente grandes para aguentar as mesquinhas mediocridades do dia-a-dia.

O Mimo é o modo português de voltar à infância, ou melhor, de dar uma volta à infância. O Mimo nada resolve, mas relativiza os problemas. É a doçura com que finge e consegue consolar as agruras mais agrestes deste mundo.

Os meninos e as meninas mimados são sempre as pessoas mais brilhantes (e egoístas) mais seguras (e teimosas) e mais encantadoras (e fatais). O Mimo é um escudo invisível. A amimia — ou falta de Mimo — provoca os maiores desastres humanos. […]

No fundo, mimar é o bem habituar mal quem se gosta. […]

O Mimo é um câmbio de extremos e de branduras entre dois actores que se sentem tão seguros com os seus papéis que os podem trocar sem fazer confusões. A teatralidade do Mimo é uma consciência deliciosa. O Mimo tem o “Mim” lá dentro e vai até ao fundo profundo de qualquer “Mim”, até ao imo. O Mimo é o imo de “Mim”. É por isso que é pequenino, é por isso que tão inho, tão menino, tão menina, sempre sem tino, andando sempre à bolina, andando dentro do coraçãozinho de mim. A equação é: mim mais imo é igual a Mimo.


Miguel Esteves Cardoso


Beijito, Miss. E muito mimo, que é coisa que nunca fez mal a ninguém.

Escrivaninha disse...

Existirá uma sinfonia ao mimo?

Beijito.