Há palavras que vivem cativas em certos locais. Em códigos específicos, por exemplo.
Hoje tropecei na palavra “Coima” escrita num cartaz que proibia “jogos de bola”. Fiquei a pensar que este palavra, apesar de fazer parte da língua portuguesa, de se encontrar no Dicionário e de (penso eu) a maior parte dos portugueses saber o seu significado, quase não se utiliza. Pelo menos em situações comuns...
Bem, se pensarmos um pouco, a coima também não se refere a situações comuns, mas sim a situações que rompem com o comum, que o violam não respeitando uma regra qualquer...Ninguém leva uma coima por bom comportamento!
Mas porque é que na linguagem comum não entrou a palavra coima e se generalizou a palavra multa? Que supremacia é esta da multa sobre a coima? Que subserviência estranha assumiu a coima, fechada em códigos de advogados e advertências de agentes de autoridade?
Nem sequer sabemos se a coima tem diminuitivos ou aumentativos. É toda aquela rigidez de palavra que não se aproxima, que não se vulgariza, que não confratreniza...e, por isso, não podemos tratar com um certo a-vontade. Como à sua parente multa. Esta, além de fazer parte do nosso quotidiano – bem, mais de uns que de outros – está presente na nossa linguagem comum. “De quanto é a multa?”; “Já apanhei aqui uma multa”; “Fiquei aliviado porque foi uma multita”; “Ainda estou a recuperar de uma valente multa” ou, numa linguagem mais vernácula “Enquanto me lembrar da puta da multa não estaciono mais ali”, são tudo expressões que já ouvimos ou já usámos...Mas, recordem-se lá de quando disseram coima...pois, não se recordam. Ela não convive connosco.
Rebusco na memória e encontro uma aviso de um polícia que se perfilou ao meu lado quando eu estacionava o carro para me avisar que conduzir sem cinto era um procedimento sujeito a coima, de uma que tive de pagar por deixar passar o tempo do talão do parquímetro sem “renovar a minha assinatura” e ...mais nada.
Mas, pensando bem, fico até agradada com este afastamento da palavra da linguagem comum, pois teria sido muito estranha a conversa de solidariedade e consternação da minha família, naquele verão, em torno do papel da multa de estacionamento. Creio que não seria nada agradável ver todos os meus sobrinhos a dissertar sobre “a coima da tia”.
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