Quando eu era criança havia a "Guerra Colonial".
Por estas alturas a RTP passava as mensagens de Natal dos tropas - longos desfiles de rostos semelhantes, com mensagens idênticas.
Como mais nova e mais desocupada desta azáfama do Natal, nos últimos anos da "Guerra Colonial" destacavam-me a tarefa de estar em frente à televisão, com uma lista dos "correspondentes de guerra" da minha irmã mais velha a ver se aparecia algum.
Devem ter sido só dois anos...mas é uma imagem que, para mim, ficou colada ao Natal: aqueles jovens, com ar desamparado, a tentar não "se desmanchar" em frente à câmara, a enviar a estereotipada mensagem de Natal: "Para os meus familiares: Boas Festas, Um Bom Natal e um Ano Novo cheio de «propriedades»". O erro de linguagem deixava de ter graça quando a mensagem terminava em lágrimas.
Eu ficava muito aflita e às vezes chorava com eles, sem saber bem porquê, no meio daquela época festiva, em que se enfeitava a casa e se retribuíam "Boas Festas".
Hoje é Natal outra vez, esta guerra colonial não existe, mas existem muitas outras, com outros títulos, com muitos subterfúgios, mas, certamente com muitas lágrimas e com toda a injustiça que traz uma guerra para os que a sofrem.
Hoje é Natal outra vez e é outra vez tempo de eu me lembrar daqueles jovens, expedidos para "o Ultramar", que sentiam a falta de tudo aquilo que tinham sonhado...
A mensagem terminava também com uma frase estereotipada, às vezes dita num soluço: "Adeus, até ao meu regresso"
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