domingo, 14 de dezembro de 2008

Natalidade

Quando chegaram os jovens papás com os gémeos todos se precipitaram para eles. Tão pequeninos: teriam meia-dúzia de meses...
Eu peguei na menina, pequenina, delicada...um apelo irresistível à ternura, ao instinto (que não considero só maternal) de derramar carinho e mimo numa vida pequenina, a começar...a evocar memórias e sentimentos.
Ela aceitou bem que eu lhe pegasse e afastámo-nos um pouco do resto dos convivas a gozar aquele primeiro contacto: os olhos dela a explorar um rosto desconhecido, a minha cara a gozar o contacto com aquelas mãos pequeninas que não paravam de mexer e que eu queria acreditar que me estavam a "fazer festinhas".
Quando nos habituámos uma à outra eu voltei a ter consciência das conversas na sala. Falava-se então de natalidade. Que em Espanha havia mais apoio à natalidade... que em Portugal era muito difícil sustentar uma família grande... etc, etc.
Olhei de novo para a bébé e apercebi-me então que tinha chegado à tal idade em que, a breve trecho, deixaria de ter a possibilidade de equacionar se me inscreveria ou não como responsável na história da natalidade.
Não deixa de ser curioso, que tenha sido numa festa de Natal, escutando uma conversa sobre natalidade, que eu tenha percebido que estava na-tal-idade.
Sorri e comuniquei baixinho à bébé a minha descoberta. Expliquei-lhe docemente que as palavras são um mundo espectacular para explorar, que ela se iria deliciar um dia a fazer jogos de palavras, ou a aperceber-se do curso delas, que por vezes parecem comboios a deslizar pelos nossos pensamentos, a conduzi-los, a desviá-los, a brincar com eles, a brincar connosco.
A bébé sorriu - naquela forma irresistível que os bébés têm de nos chamar a atenção quando estamos a ser idiotas - e eu acho que ela me entendeu.
Coisas de mulheres!...

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