Embirro um bocadinho com certos dias comemorativos. Sobretudo aqueles em que se comemora, por decreto, as questões afectivas e em que nos impingem imagens estereotipadas dos papéis socio-afectivos, que eu acho que podem ser até perigosas. Estão neste caso os dias do Pai, da Mãe, dos Namorados, da Criança...
Se no Dia de S. Valentim não me atrevo a escrever estas coisas, pois já sei que vão logo dizer que são opiniões de uma solteirona (ou qualquer coisa pior...) no Dia da Mãe apetece-me veicular o meu lamento e a minha preocupação. É mesmo mais uma preocupação. Não como mãe, mas como filha da mãe e como professora e formadora de alunos/garotos/jovens com situações muito diversas.
Este sentimento de embirração, preocupação e alarme por estes dias já me acompanha há muito tempo, mas foi ontem, enquanto deambulava por um grande centro comercial da capital, que ele ganhou força e vontade para se escrever como post de blogue.
Todas as montras estavam revestidas a elogios e néons a mães maravilhosas, fantásticas, dignas de veneração, frequentemente como «a melhor mãe do mundo». Fico a pensar em toda a gente que por ali passa e lê e vê e pensa e subjectiviza a questão. Como se sentirá se a sua mãe não for a melhor do mundo?...E tantas há que nem são boas, quanto mais as melhores do mundo e arredores!...Como se sentirão os filhos que não podem dizer estas coisas lindas e grandiosas das suas mães? Provavelmente sentir-se-ão desfavorecidos num mundo onde, se todas as mães são assim tão boas, porque lhe calhou a única que não prestava? Que o abandonou, ou que está lá só para o criticar, o enxovalhar, o comparar com tristeza com os filhos de outras mães, essas sim, afortunadas pelo destino que a ela lhe falhou?
Há mães assim! Não sei se são muitas, mas uma que fosse já seria um fardo grande demais para carregar, sobretudo num dia em que todo o mundo lembra - em luzes brilhantes - que Mãe é sinónimo de uma plêiade de qualidades.
Sei que não é politicamente correcto nada do que estou a escrever. Mas sei que este dia é muito pesado para muita gente, para muitas crianças e jovens que não desfrutam da sorte de ter uma mãe daquelas que se cultuam hoje.
E o fardo desses pesa-me sempre quando vejo que todo o mundo gosta de se orquestrar para glorificar os padrões, os ideais que nos vende e que por vezes contrastam (tanto!) com a realidade de muitos, que não precisam que lhes gritem a sua situação de desfavorecidos.
Não me intrepretem mal. Apesar de já não ter mãe ( e o nosso Dia da Mãe era só, como já por aqui disse, a 8 de Dezembro) até assinalei o dia com uma pequena prendinha para a mãe da família dos amigos com quem fui almoçar. Mas, talvez por ser professora, talvez por já ter integrado em tempos uma Comissão de Protecção de Menores, ou talvez só por ser eu, às vezes dá-me para ver o avesso dos dias comemorativos e pensar nas lágrimas de tristeza e na culpa que estes dias provocam nos que são, por diversas razões, desfavorecidos.
2 comentários:
Tem a Miss toda a razão (acho que é a primeira vez este ano que lhe dou razão...)!
Deixo-lhe aqui um textito copiado do Facebook, de uma "amiga" minha que não identifico e que, portanto, acho que não se importaria deste transplante.
Obrigada...
por tudo o que não me deste
pelo beijo que esperava em vão
pela ternura que nunca chegava
pelas inúmeras vezes que me relembraste que eu não devia ter nascido
por me teres "despejado" à protecção da minha avó
pelos aniversários que não festejaste
pelas palmadas tão injustas que me deste
pelos trabalhos que me impuseste desde tenra idade
pela frieza do teu olhar...
Obrigada mãe!
Graças a ti hoje sei o que é mau, sei o que não devo fazer.
Obrigada mãe... por me fazeres crescer.
Pois é...
Beijito.
E repare-se que não foi só razão: foi "toda a razão". Assim, de forma plena, não sei se não terá sido uma estreia...
Beijito! :-)
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