Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
Estava o Parlamento em tédio morno Do Processo Penal a lei moendo Quando carnal a deputada porno Entra em S. Bento. Horror! Caso tremendo!
Leda à tribuna dos solenes sobe A lasciva onorevole Cicciolina E seus pares saudando ali descobre O botão rosado da tettina.
Para que dos pais da Pátria o pudor vença, Do castro bracarense o verbo chispa: «Cesse a sessão em nome da decência Antes que a Messalina mais se dispa.»
Mas - ó partidas que prega a estatuária! - Que fazer no hemiciclo avesso ao nu Daquela estátua que a nudez plenária Ali ostenta sem pudor nenhum?
Eis que o demo-cristão então concebe As vergonhas velar da escultura. Honesta inspiração do céu recebe E moção apresenta de censura:
«Poupado seja à nudez viciosa O olhar parlamentar votado ao bem. Da estátua tapem-se as partes vergonhosas. Ponham-lhe cuequinhas e soutiens.»
2 comentários:
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner Andresen
A casa da República pela língua sem freios de Natália, aquando da visita da deputada italiana Cicciolina:
Notícia de um caso tremendo
que abalou o Parlamento
Estava o Parlamento em tédio morno
Do Processo Penal a lei moendo
Quando carnal a deputada porno
Entra em S. Bento. Horror! Caso tremendo!
Leda à tribuna dos solenes sobe
A lasciva onorevole Cicciolina
E seus pares saudando ali descobre
O botão rosado da tettina.
Para que dos pais da Pátria o pudor vença,
Do castro bracarense o verbo chispa:
«Cesse a sessão em nome da decência
Antes que a Messalina mais se dispa.»
Mas - ó partidas que prega a estatuária! -
Que fazer no hemiciclo avesso ao nu
Daquela estátua que a nudez plenária
Ali ostenta sem pudor nenhum?
Eis que o demo-cristão então concebe
As vergonhas velar da escultura.
Honesta inspiração do céu recebe
E moção apresenta de censura:
«Poupado seja à nudez viciosa
O olhar parlamentar votado ao bem.
Da estátua tapem-se as partes vergonhosas.
Ponham-lhe cuequinhas e soutiens.»
Natália Correia
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