Cheguei a casa cansada, mas precisava, antes de cair - literalmente - no sofá, de imprimir algumas coisas para as aulas de amanhã de manhã.
Liguei a televisão na RTP1, eram cerca de 20 h, sempre ouviria as notícias.
Haiti, acidente na A4, imagens chocantes...aviso aos telespectadores e «cá vai disto» imagens para toda a família ficar chocada e irmos todos criando uma resistência - que se reveste de indiferença - ao horror, à morte, à dor...(quase invocava o Albarrâ, agora...)
Sei que só estou a ouvir isto tudo porque a estante me separa do acesso à televisão, me impede olhar as imagens e o cabo da impressora me retém deste lado...sem energia para, sequer, ir desligar o aparelho.
A determinada altura os meus sentidos bloqueiam a percepção àquilo tudo e, só passado algum tempo, volto a tomar atenção: desta vez é uma reportagem sobre «o pequeno Saúl», que se «notabilizara» por cantar, em versão infantil, as ordinarices de Quim Barreiros, outro notável da Nação. A pobre criança foi afinal explorada pela família que o deixou na penúria (14 € na conta!) e ele lá continua, com um ar ordinareco mas honesto, a cantar as suas brejeirices que vão encantando plateias. Filmado junto das peixeiras da Fiqueira da Foz, ficou atestado no serviço noticioso, que era um rapaz trabalhador e merecedor de apreço.
Quase logo a seguir surge uma «reportagem profunda» sobre o terço que Cristiano Ronaldo usa sempre ao pescoço. E que é feito de plástico! Um modesto terço, feito numa fabriqueta familiar dos arredores de Fátima. Lá estavam todas as produtoras de terços, orgulhosas, fiéis e empreendedoras: estão até a pensar em começar a comercializar a Nossa Senhora com cores mais modernas...azul forte, cor-de-rosa...
Chega! Levanto-me da cadeira e vou verificar que não estava numa emissão da RTPMemória, mas sim da RTPMesmo.
Fátima, Futebol e Música Pimba: a «nova trilogia»? Conta-me como foi e já não é, por favor!
2 comentários:
ora aí está o que eu não perco por quase não ver televisão...
ao ler os seu relato, ainda pensei que em rtpm o m fosse aquele m----,
mas compreende-se...
uma escrivaninha vintage e de boa madeira não escreve ordinarices como o barreiros...
;-)
Ah, sempre me contentou que a plebe se divertisse
Ah, sempre me contentou que a plebe se divertisse.
Sou-lhe alheio à alegria, mas não alheio a que a tenha
Quero que sejam alegres à maneira deles.
Se o fossem à minha seriam tristes.
Não pretendo ser como eles, nem que eles sejam como eu.
Cada um no seu lugar e com a alegria dele
Cada um no seu ponto de espírito e faltando a língua dele.
Ouço a sua alegria, amo-a, não participo não a posso ter.
Álvaro de Campos
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